Há algum tempo escrevi aqui no TriCurioso sobre quem foi a primeira médica do mundo e chegou a hora de prestigiar também o primeiro grande nome feminino da medicina brasileira. Que tal conhecer esta brilhante história?

Seu nome era Rita Lobato Velho Lopes, nascida em Rio Grande (RS) no dia 9 de junho de 1866 ainda prematura, sete meses. Sua mãe se chamava Rita Carolina Velho Lopes enquanto seu pai era Francisco Lobato Lopes, eles viviam muito bem, eram ricos estancieiros e comerciantes do famoso charque gaúcho. Rita desde criança desejava ser médica e isso se fortaleceu quando sua mãe faleceu. Sua grande meta de vida tornou-se evitar que mulheres tornassem a falecer durante o parto assim como ocorreu a sua mãe, o que a fez focar na área de obstetrícia.

Após passar pelo ensino regular, Rita precisou matricular-se em um curso preparatório já que era extremamente difícil ingressar nas faculdades naquele período, principalmente por priorizarem os homens e também pelas mensalidades de alto valor. Rita teve todo o apoio familiar que precisou para seguir seus sonhos e se mudar de cidade para assim atingir seus sonhos. Além da boa situação financeira da família da jovem, outro fator determinante em sua jornada foi o decreto imperial nº7247 assinado por Dom Pedro II em 19 de abril de 1879 que impedia a discriminação de mulheres no ensino superior. Partindo deste cenário, Francisco Lobato mudou-se com sua família para o Rio de Janeiro e em 1884 matriculou sua filha e um de seus irmãos, Antônio, no curso de medicina.

Nesta época apenas três moças destoavam do contexto majoritariamente masculino do curso, eram elas Ermelinda Lopes de Vasconcelos, Antonieta César Dias e nossa querida Rita Lobato. Infelizmente, no final do primeiro ano de estudos, seu irmão teve um desentendimento com a reitoria da instituição que resultou em até agressão corporal em função da Reforma Felipe Franco de Sá onde os diversas modificações foram determinadas. Para evitar retaliação, Francisco mudou sua família novamente, desta vez para Salvador onde Rita e seus irmãos poderiam completar os estudos.

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Agora na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Rita se surpreendeu ao ser muito bem recebida por seus colegas onde fez muitas amizades. Os seis anos do curso de medicina tornaram-se três para Rita que se empenhou em ser aprovada rapidamente, assim usufruindo do direito de pedir antecipação de seus exames. Aos 21 anos, concluiu sua jornada acadêmica sempre com notas exemplares. Sua tese foi apresentada em 24 de novembro de 1887 e tinha o título “Paralelo entre os métodos preconizados na operação cesariana”. Um mês após, foi consagrada a primeira mulher a se formar em Medicina do Brasil!

Após a formatura, Rita voltou ao Rio Grande do Sul ao lado de seu pai para reencontrar seu prometido Antônio Maria Amaro de Freitas com quem tinha um relacionamento a distância. Com ele se casou em 18 de julho de 1889 em Jaguarão e lá viveu por um ano atendendo em seu próprio consultório pessoas de todas as classes. Após, mudou-se para Porto Alegre onde atendia em seu domicílio e continuava recebendo todos os pacientes que lhe batiam a porta. Após o nascimento de sua filha, ela e o marido compraram a Estância de Capivari onde viveram por muitos anos até março de 1910 quando Rita decidiu voltar a estudar, nesta época ela morou em Buenos Aires por cinco meses onde pode estudar e descobrir novos procedimentos médicos. Ao retornar ao Brasil, começou a atender as cidades de Capivari, Rio Pardo e arredores. Quando sua filha casou, a Doutora decidiu se aposentar.

Sensacional sua jornada, não é mesmo? Comente!