Seja assistindo filmes particularmente tristes, vivenciando uma certa tragédia pessoal, ou simplesmente enquanto prepara uma refeição com muita cebola, você já deve ter experimentado a sensação de ter lágrimas escorrendo por suas bochechas. De fato, chorar é algo que fazemos desde o nosso nascimento. Na verdade, o choro é provavelmente a primeira coisa que todo mundo faz na vida!

Dado o quão natural e comum é o ato de chorar, algumas dessas lágrimas acabam escorrendo pela boca de todas as pessoas no planeta em algum momento, revelando os seu gosto incrivelmente salgado. Consequentemente, o sabor salgado e incomum das lágrimas continua sendo uma fonte de surpresa sempre que elas atingem as papilas gustativas de boa parte da população mundial. Mas por que será que nossas lágrimas têm um sabor tão salgado?

Antes de nos aprofundarmos na explicação completa dessa pergunta, vamos primeiro dar uma olhada na composição de nossas lágrimas, ao mesmo tempo em que compreendemos as reais utilidades desse líquido de sabor intrigante.

Qual é a composição das lágrimas?

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Nossos olhos compõem uma das adaptações mais impressionantes do nosso corpo, não apenas por nos conferir a capacidade de enxergar, mas também pelo fato de apresentarem mecanismos e sistemas complexos que os mantêm em segurança. Garantir que os olhos não fiquem secos quando abertos é de extrema importância crítica, tanto é que é exatamente por isso que piscamos. Cada vez que fechamos as pálpebras, uma fina camada de líquido lacrimal é espalhada pela superfície dos olhos.

Em termos mais técnicos, essas lágrimas mais “cotidianas” são chamadas de lágrimas basais e são compostas de água, lipídios, mucina, imunoglobulinas, sódio e potássio, entre outras substâncias, incluindo uma variedade de antioxidantes como ascorbato e urato. Muitos dos componentes das lágrimas basais destinam-se a proteger os olhos de patógenos estranhos ou de outras ameaças bacterianas em potencial.

Existem alguns tipos de lágrimas menos comuns?

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Além das lágrimas basais, que são as mais comuns, existe um outro tipo de lágrima que se forma em nossos olhos, que é chamado de lágrimas reflexas, que como o seu próprio nome indica, se formam em resposta a um intenso estímulo externo. Por exemplo, se você for pego por uma grande tempestade de areia ou até mesmo tocar seus olhos após fatiar uma pimenta ou algum outro alimento ou objeto irritante, essas lágrimas reflexas se formam instantaneamente para liberar os estímulos defensivos necessários.

O terceiro e último tipo compõe as chamadas lágrimas psíquicas, que são as lágrimas geradas por intensas experiências emocionais, como felicidade, tristeza, exaustão, diversão, etc. Curiosamente, o caminho pelo qual essas “lágrimas emocionais” são geradas é bastante diferente, sendo controlado pelo sistema límbico do cérebro, que afeta o sistema nervoso parassimpático, liberando neurotransmissores que acionam a glândula lacrimal para produzir lágrimas.

Não apenas o caminho da “geração emocional” das lágrimas é diferente, mas também a composição dessas lágrimas é dessemelhante. Nesse caso, existe uma concentração muito maior de hormônios à base de proteínas, além de uma substância analgésica leve, a leucina-encefalina, que age como um analgésico natural.

Claramente, nem todas as lágrimas são iguais, de modo que mesmo quando já estão secas e só podem ser conferidas sob as lentes de um microscópio, ainda é possível ver a diferença entre as lágrimas geradas por uma tristeza profunda e aquelas que foram provocadas por uma pitada de spray de pimenta. Curiosamente, isso já foi até usado em investigações criminais por parte dos cientistas forenses.

Mas, afinal de contas, por que a lágrima é sempre salgada, independente do seu tipo?

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Como já foi mencionado, as lágrimas contêm potássio e sódio, dois dos eletrólitos mais importantes que temos no corpo. Para quem não sabe, os eletrólitos são sais naturais que o corpo necessita especialmente para o funcionamento do sistema nervoso, mais especificamente para a perfeita transmissão de informações entre diferentes células nervosas. Os eletrólitos (sais) mais importantes que temos no corpo incluem potássio, sódio, cálcio, bicarbonato, fosfato e magnésio, entre outros.

Quando você põe a língua para fora e prova um pouco do sal proveniente das lágrimas, isso demonstra o quão sensível o nosso paladar realmente é, pois aproximadamente 98% da composição da lágrima é constituída de água pura, enquanto os 2% restantes contêm todas as outras substâncias e compostos que citei acima.

No entanto, mesmo com um nível tão baixo de salinidade, suas lágrimas tornam o ambiente dos seus olhos incrivelmente desagradável ao crescimento de bactérias que poderiam causar algum problema à sua visão. De fato, as nossas lágrimas são usadas com mais frequência como uma extensão do nosso sistema imunológico, portanto, a presença de uma grande quantidade de sal nas lágrimas para combater o desenvolvimento de bactérias faz todo o sentido.

No fim das contas, todo o nosso corpo é salgado

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Além de tudo isso que foi mencionado, precisamos levar em conta o fato de que somos criaturas salgadas por natureza, até porque contamos com quase meio quilo de sal em nossos corpos o tempo todo. Por isso faz sentido que esse fluido absolutamente natural também tenha uma quantidade considerável de sal. A água em nossos corpos é inerentemente salgada, embora menos salgada que o oceano, pois isso exigiria muita energia celular para garantir que a maior parte de nossas lágrimas fosse constituída de água pura.

Além disso, alguns dos outros sais e íons encontrados em nossas lágrimas ajudam nos processos de lubrificação, proteção e cura no olho. No entanto, a maior vantagem em ter três tipos diferentes de lágrimas é que o corpo pode reagir com a concentração de salinidade e o tipo de lágrima adequado para cada ameaça em potencial.

Ou seja, a salinidade das nossas lágrimas é um outro ótimo exemplo da extraordinária complexidade e interconexão dos nossos corpos. A seleção natural encontrou o caminho mais conveniente e eficaz para garantir que nossos olhos ficassem protegidos contra danos externos usando compostos já presentes nos fluidos do corpo. Assim, podemos concluir que até as coisas mais simples, como as lágrimas reflexas que escorrem dos cantos dos seus olhos em um longo passeio pelas suas bochechas, também contam uma história impressionante da evolução humana.

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