Vamos transferir a nossa imaginação para aproximadamente 2 milhões de anos atrás, quando os primeiros ancestrais humanos rondavam as savanas africanas em busca de comida. À medida que eles gradualmente se mudavam para novas terras, talvez tropeçassem em uma nova planta, que parecia particularmente deliciosa para quem passava dias vagando no calor. Em tal situação, é intrigante pensarmos em como os primeiros hominídeos sabiam discernir o que seria seguro para comer e o que os deixaria deficientes em nutrientes, doentes ou até mortos.

Essa questão também torna-se muito interessante se formos analisar toda a evolução da nossa espécie na questão de identificar o que é comestível e o que pode ser venenoso. Nos dias de hoje, temos a Internet e vários aplicativos que podem nos dizer o que é seguro ou perigoso, mas há milhares de gerações, o que será que norteava as decisões alimentares tomadas por nossos ancestrais? É exatamente essa a questão que vamos abordar ao longo desse post!

Entendendo o “comportamento aprendido”

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Quando crianças, nós geralmente aprendemos as características do mundo ao nosso redor quase inteiramente através da observação e da imitação. Desde o riso e a caminhada até o uso de objetos, enfim, tudo o que molda o comportamento de nossas vidas tem uma base no que observamos nos outros. O mesmo se aplica à comida. Se vemos nossos pais comendo uma banana todas as manhãs nos primeiros anos de nossa vida, nosso cérebro tende a catalogar tal informação, nos indicando que as bananas são alimentos seguros para comer.

À medida que crescemos, nós também vemos que os nossos pais nunca comem os talheres da mesa, então começamos a entender a partir disso que garfos e facas são ferramentas e não tipos de comida. Desse modo, podemos aplicar esse mesmo conceito de “comportamento aprendido” aos nossos ancestrais de milhares ou até milhões de anos atrás.

Durante a grande maioria da história da humanidade, os hominídeos eram caçadores e coletores. Isso significava que eles geralmente ficavam nas mesmas regiões por várias gerações, expondo-se lentamente a diferentes formas de flora e fauna. Assim, quando novas plantas eram encontradas em seu território, um processo fundamental de tentativa e erro era provavelmente a técnica mais usada.

Pequenas quantidades de plantas, sementes, bagas, frutas e até mesmo de insetos eram provavelmente consumidas por vez. Se alguém ficasse gravemente doente ou morresse, esse item em particular seria evitado no futuro. Se nenhum efeito nocivo fosse observado, o item poderia ser gradualmente introduzido na dieta em doses crescentes, até ser totalmente determinado como um alimento “seguro”.

Uma questão de tentativa e erro

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O processo de tentativa e erro pode parecer algo bastante aleatório para a sobrevivência de uma espécie, mas essa mesma abordagem pode ser rastreada em todos os mamíferos, répteis, peixes e procariontes da Terra. De fato, toda essa questão de “tentativa e erro” pode ser extrapolada por todos os tipos de vida no planeta, um processo que podemos entender melhor através das lentes da seleção natural.

Embora os humanos não sejam necessariamente as únicas criaturas que podem se comunicar com outros membros de sua espécie, nós provamos ser os mais hábeis nessa habilidade, graças ao nosso desenvolvimento da linguagem, simbolismo, matemática e do próprio raciocínio. Ao contrário da grande maioria das espécies ao longo da história do nosso planeta, os seres humanos são capazes de se comunicar com clareza, muitas vezes através de longas distâncias e eras (via tradição oral e escrita).

Além disso, os nossos ancestrais eram muito mais conectados à terra do que a maioria dos seres humanos modernos, de modo que eles tinham que ter um profundo entendimento das plantas e ecossistemas em que viviam. Seu comportamento aprendido pode ter vindo da observação das gerações anteriores e da absorção desse conhecimento. Curiosamente, uma vez que os humanos se tornaram mais agricultores e restringiram suas dietas a alimentos básicos, grande parte do conhecimento das plantas silvestres foi perdida, mas as tradições alimentares e os padrões regionais persistiram.

Da mesma forma, durante a era dos descobrimentos, muitos exploradores lendários e suas equipes ficaram doentes ou morreram, muitas vezes depois de comerem certas plantas desconhecidas. Sem o conhecimento regional ou um guia local, eles não tinham o “comportamento aprendido” que os manteria seguros nessa área. Hoje, felizmente, temos uma quantidade infinita de recursos para nos informar sobre o que podemos e o que não devemos comer, não importa onde estamos situados no mundo.

Sentidos e instintos

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Além do comportamento aprendido que obtemos através da observação de nossos pais, parentes e outras espécies, não devemos esquecer que também temos um sistema sensorial altamente desenvolvido que nos mantém seguros quando se trata dos alimentos que ingerimos. Os humanos primitivos já tinham um senso de paladar altamente desenvolvido, capaz de discernir coisas como amargura, doçura, salinidade e acidez.

Desse modo, se uma fruta desconhecida fosse rica em açúcares (carboidratos), os humanos primitivos seriam naturalmente atraídos por ela. Por outro lado, se a planta fosse amarga, os nossos ancestrais ficariam receosos em consumi-la. Ou seja, quando o comportamento aprendido não estava prontamente disponível, os instintos mais profundos do corpo, os sentidos, assumiam o controle para guiar as ações das pessoas.

Consequentemente, muita gente pode achar difícil acreditar que os seres humanos sobreviveram e persistiram através de um ciclo interminável de tentativas e erros. No entanto, o fato é que ao longo de milhares de gerações e à medida que os humanos evoluíram para nossa forma atual, uma combinação de comportamentos aprendidos daqueles que vieram antes e até mesmo os nossos próprios sentidos realmente nos ajudaram a nos colocar no caminho certo para tomarmos decisões alimentares cada vez mais seguras.

Infelizmente, ao longo dessa jornada, houveram algumas “cobaias” infelizes que acabaram morrendo ao experimentar os primeiros cogumelos tóxicos. Só que, ainda assim, o seu sacrifício extremamente louvável ajudou a moldar e a proteger as gerações vindouras, juntamente com o desenvolvimento do raciocínio, das estruturas sociais e do poder de comunicação. Nós, os seres humanos dos dias de hoje, devemos certamente sermos gratos por isso.

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