Ao longo de toda a sua vida, você já deve ter escutado alguém dizer algo como “o tiro saiu pela culatra”, que é uma expressão muito utilizada para dizer que alguma coisa acabou saindo ao contrário do que foi planejado. No entanto, o que pouca gente sabe é que essa expressão pode ser aplicada à curiosa história de um submarino que acabou sendo destruído pelo seu próprio torpedo.

Neste artigo, nós vamos explorar esse que se tornou um dos casos mais bizarros envolvendo a Marinha dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Você também vai descobrir também que, embora os submarinos sejam veículos de combate muito valiosos e complexos nos dias de hoje, a coisa era um tanto diferente na época da Segunda Guerra, quando eles eram basicamente navios de superfície que podiam viajar debaixo d’água por um período de tempo bem limitado.

O uso de submarinos por parte da Marinha dos Estados Unidos

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Durante a Segunda Guerra Mundial, os submarinos americanos passaram a ser utilizados em larga escala, mas alguns deles aina apresentavam uma variedade de problemas relacionados aos seus torpedos, como detonação prematura e medições de profundidade incorretas. O problema mais notável de todos era a tendência que alguns disparos apresentavam de retornar ao próprio submarino através de movimentos circulares. De fato, isso passou a ser conhecido como “execução circular”.

É importante destacar que os primeiros torpedos eram bastante rudimentares, assemelhando-se com as balas disparadas por uma arma, embora bem maiores. No entanto, já no início do século 20, mais especificamente antes do início da Primeira Guerra Mundial, os torpedos ganharam a capacidade de corrigir o rumo em direção ao alvo, mesmo se fossem disparados em uma direção diferente.

Na prática, essa correção de ângulo era definida mecanicamente enquanto o torpedo ainda estava no tubo de lançamento. Depois que o torpedo era finalmente disparado, ele percorria um percurso reto por uma curta distância chamada “rota de alcance”, até que o mecanismo de direção do torpedo entrava em ação e o fazia girar, sendo que depois que o rumo desejado fosse alcançado, o torpedo endireitaria seu curso e correria em direção ao alvo.

O surgimento dos primeiros problemas

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Olhando assim, parece ser uma tecnologia bem avançada para a época, não é mesmo? Bem, apenas em tese… O problema com muitos torpedos usados pela Marinha dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial era que eles nunca paravam de girar e ainda apresentavam o estranho comportamento de retornar para a cauda do próprio submarino que havia efetuado os disparos. De fato, foram registrados pelo menos trinta casos de execuções circulares por torpedos disparados por submarinos americanos para acertar navios inimigos, sendo que dois deles resultaram em mortes.

Embora os americanos já sofressem com esse problema há um bom tempo, as coisas só viriam a realmente chamar a atenção com o caso envolvendo o USS Tullibee. O tal USS Tullibee, afundado em 29 de julho de 1944 com apenas um sobrevivente, tornou-se o primeiro submarino americano na Segunda Guerra Mundial a ser afundado por um de seus próprios torpedos.

Curiosamente, houve um segundo submarino (o USS Tang) a ser afundado por um torpedo rebelde. De fato, este segundo incidente foi ainda mais notável porque o USS Tang era considerado o mais bem-sucedido de todos os submarinos americanos implantados durante a guerra. Para se ter uma ideia, em sua curta carreira de apenas dois meses, o USS Tang chegou a afundar 33 navios inimigos!

O curioso incidente envolvendo o USS Tang

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O submarino USS Tang estava em sua quinta patrulha oficial, indo para o Estreito de Formosa, agora conhecido como Estreito de Taiwan, no Mar do Sul da China. Na noite de 23 de outubro de 1944, o Tang encontrou um grande comboio inimigo composto por três navios-tanque, um transportador, um cargueiro e várias escoltas. Sem muita espera, o submarino entrou no meio da formação e começou a disparar seus torpedos, primeiramente no cargueiro e depois nos navios-tanque. Seu objetivo era claramente o ataque massivo, de modo que em pouco tempo os seus alvos já haviam afundando.

Na noite seguinte, 24 de outubro, o submarino Tang encontrou um outro comboio japonês de navios-tanque com aviões nos conveses e navios transportadores com uma carga de aviões militares. O Tang lançou uma saraivada de torpedos no comboio e partiu a toda velocidade para tentar se defender de um destróier e duas escoltas que estavam em seu encalço. Sem muita surpresa, o destróier inimigo explodiu ao tentar interceptar o torpedo do Tang.

Até então, o submarino americano já estava com seus últimos dois torpedos de um total de 24. Pouco tempo depois, o Tang disparou seus dois torpedos restantes. O primeiro disparo saiu exatamente como planejado, mas o último torpedo apresentou problemas rapidamente. Logo após o disparo, ele curvou-se bruscamente para a esquerda, circulou ao redor e atingiu o submarino Tang na parte traseira. A explosão foi tão violenta que todos os ocupantes foram jogados contra as paredes e anteparas de aço da embarcação.

Os acontecimentos após o incidente

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Após a explosão, o submarino afundou a 180 pés. Alguns militares sobreviventes ao impacto tentaram se aglomerar na sala dos torpedos dianteira, pretendendo usar o local para uma tentativa de fuga desesperada. Para impedir que segredos militares caíssem nas mãos do inimigo, vários documentos foram destruídos.

Apenas treze homens conseguiram escapar da sala de torpedos. Dos treze que escaparam, apenas oito chegaram à superfície. Destes, apenas cinco foram resgatados. Outros quatro conseguiram escapar do Tang antes que o submarino afundasse e também foram resgatados após um espaço de tempo de 8 horas. No entanto, o triste relato é que, infelizmente, 78 pessoas perderam a vida neste incidente bizarro.

Dos 24 torpedos que Tang disparou em sua última patrulha, 22 atingiram corretamente os seus alvos nos navios inimigos, chegando a afundar 13 deles. Por ironia do destino, o último foi exatamente o que apresentou problemas e que acabou afundando o Tang. O comandante Richard O’Kane, um dos sobreviventes da tragédia, recebeu uma medalha de honra pelos seus esforços, enquanto que a embarcação destruída recebeu uma homenagem da unidade presidencial em duas oportunidades diferentes.

Um acontecimento trágico, mas bastante curioso, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!