No início de 1991, a União Soviética era o maior país do mundo em extensão territorial, cobrindo cerca de 22.400.000 quilômetros quadrados, quase um sexto da superfície da Terra. Sua população girava na casa dos 290 milhões e 100 nacionalidades distintas viviam dentro de suas fronteiras.

Além disso, a URSS também ostentava um arsenal de dezenas de milhares de armas nucleares, sem falar que a sua esfera de influência, exercida por mecanismos como o Pacto de Varsóvia, se estendia por toda a Europa Oriental. No entanto, em 26 de dezembro de 1991 a União Soviética oficialmente deixou de existir. Mas, afinal de contas, o que causou a sua dissolução? Como uma nação que chegou a ameaçar a influência americana na geopolítica mundial conseguiu ter um fim tão conturbado?

Embora seja, para todos os efeitos práticos, impossível identificar uma causa única para um evento tão complexo e abrangente quanto a dissolução de uma superpotência global, certos fatores internos e externos contribuíram grandemente para o colapso da União Soviética. Ao longo desse artigo, nós vamos abordar as condições principais que levaram ao fim da URSS.

O fator político

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Quando Mikhail Gorbachev foi nomeado secretário geral do Partido Comunista da União Soviética (CPSU) em 11 de março de 1985, seus principais objetivos eram dar um impulso à moribunda economia soviética e otimizar a complicada burocracia do governo. Quando suas tentativas iniciais de reforma falharam em obter resultados significativos, ele instituiu as políticas de Glasnost (“abertura”) e Perestroika (“reestruturação”).

Na prática, o primeiro pretendia promover o processo de abertura política, enquanto o segundo introduzia políticas de mudanças estruturais na sociedade e na economia, incluindo a introdução do livre mercado nas indústrias administradas pelo governo. No entanto, em vez de provocar um renascimento no pensamento comunista, a Glasnost abriu as comportas para as críticas do aparato soviético. Assim, o Estado perdeu o controle da mídia e da esfera pública, enquanto os movimentos de reforma democrática ganharam força no bloco soviético.

Já a Perestroika simplesmente reuniu o pior dos sistemas capitalista e comunista: o controle de preços foi suspenso em alguns mercados, mas as estruturas burocráticas existentes foram mantidas, o que significava que as autoridades soviéticas ainda eram capazes de se posicionar contra as políticas que não os beneficiavam pessoalmente. No final, as reformas de Gorbachev e seu abandono da doutrina de Brejnev aceleraram o fim do império soviético.

Para piorar a situação, no final de 1989, a Hungria havia desmontado a cerca da fronteira com a Áustria, os estados bálticos estavam dando passos concretos em direção à independência e o Muro de Berlim havia sido derrubado. Ou seja, os indícios já davam conta de que a União Soviética não demoraria para colapsar.

O fator econômico

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Por algumas medidas, a economia soviética era a segunda maior do mundo em 1990, mas a escassez de bens de consumo era rotineira e a aquisição de bens por vias ilegais era comum. Para se ter uma ideia, estima-se que a economia soviética do mercado negro equivalia a mais de 10% do PIB oficial do país! A estagnação econômica atrapalhou o país durante anos e as reformas da Perestroika serviram apenas para agravar o problema.

Além disso, os aumentos salariais eram apoiados pela impressão desenfreada do dinheiro, o que alimentou uma escalada da inflação sem precedentes. A má administração da política fiscal também tornou o país vulnerável a fatores externos e uma queda acentuada no preço do petróleo levou a economia soviética à ruína.

Ao longo das décadas de 1970 e 1980, a União Soviética chegou a ser classificada como um dos principais produtores mundiais de recursos energéticos, como petróleo e gás natural, de modo que as exportações dessas commodities desempenhavam um papel vital na sustentação de uma das maiores economias do mundo. No entanto, quando o preço do petróleo caiu de US $ 120 por barril em 1980 para US $ 24 por barril em março de 1986, essa linha vital para o capital externo secou.

Vale destacar que o preço do petróleo até chegou a subir temporariamente após a invasão do Kuwait pelo Iraque em agosto de 1990, o que em tese poderia ajudar a União Soviética, mas a essa altura o colapso do país já estava em estágio avançado.

Guerra Afegã-Soviética

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Além das questões orçamentárias, o envolvimento soviético no Afeganistão (entre 1979 a 1989) foi um fator militar essencial na dissolução da União Soviética. Na ocasião, o exército soviético, reconhecido por seu papel na Segunda Guerra Mundial e uma ferramenta vital na repressão da Revolução Húngara e na Primavera de Praga, havia invadido um atoleiro em uma região conhecida como Cemitério dos Impérios.

Cerca de um milhão de soldados soviéticos participaram da ocupação que durou 10 anos e aproximadamente 15.000 foram mortos e milhares acabaram ficando feridos. Além das baixas soviéticas, mais de um milhão de afegãos (principalmente civis) foram mortos e pelo menos 4 milhões foram deslocados externamente pelos combates. Desse modo, o mesmo exército que havia derrotado Hitler e esmagado a dissidência durante a Guerra Fria se viu frustrado ao enfrentar combatentes afegãos armados com mísseis americanos.

Enquanto o governo controlava a imprensa, a discordância sobre a guerra no Afeganistão permaneceu silenciosa, mas a Glasnost abriu a porta para a vocalização do cansaço generalizado da guerra. O exército, talvez o oponente mais poderoso dos esforços de reforma de Gorbachev, se viu em desvantagem pelo impasse no Afeganistão e perdeu toda a alavancagem que poderia ter para controlar o avanço da Perestroika.

Curiosamente, muitos soldados das repúblicas soviéticas da Ásia Central sentiam que seus laços étnicos e religiosos eram mais estreitos com os afegãos do que com os russos, o que fez com que os protestos se tornassem ainda mais generalizados. Desmoralizadas e sem vitória à vista, as forças soviéticas começaram a deixar o território afegão em 1988. O último soldado soviético atravessou a fronteira em 15 de fevereiro de 1989.

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