Diferentemente das origens do teatro, balé, ópera, cinema e televisão, que são geralmente bem documentadas, os estudos sérios sobre a história do circo são escassos e abordados apenas por alguns poucos entusiastas e estudiosos.

De fato, o pouco que o público em geral sabe é a história do circo contada ao longo dos anos por agentes imaginativos da imprensa circense, que também é muitas vezes incompreendida e distorcida por escritores de ficção popular e até mesmo pelos roteiristas de Hollywood.

Um dos equívocos mais populares sobre a história do circo é a ideia muitas vezes repetida de que o circo remonta à antiguidade romana. No entanto, o circo romano era, na realidade, uma pista com arquibancada onde aconteciam corridas de cavalos, combate entre gladiadores e brigas entre homens e animais. De fato, o único denominador comum entre circos romanos e os circos modernos é a própria palavra “circo”, que tem o significado de “círculo” em várias línguas diferentes.

Então, se os circos antigos possuíam características tão diferentes, qual foi o primeiro circo moderno que surgiu no mundo?

A história de Philip Astley, o pai do circo moderno

Philip Astley, considerado o pai do circo moderno

O circo moderno foi criado na Inglaterra por Philip Astley (1742-1814), um ex-sargento-major da cavalaria que virou um verdadeiro mestre de espetáculos. Astley havia servido na Guerra dos Sete Anos (1756-63), onde mostrou ter um talento notável como treinador de cavalos. Após o fim dos combates, Astley optou por imitar os truques que havia aperfeiçoado, conquistando um crescente sucesso por toda a Europa.

Em 1768, Astley se estabeleceu em Londres, onde abriu uma escola de hipismo perto da Ponte de Westminster, onde lecionava pela manhã e realizava seus “feitos de equitação” à tarde. Em Londres, naquela época, o teatro comercial moderno (uma palavra que abrangia todos os tipos de artes cênicas) estava em pleno processo de desenvolvimento. O edifício de Astley apresentava uma arena circular que ele chamava de “círculo”, ou “circo”, e que mais tarde seria conhecida como “anel do circo” (ou “picadeiro”).

O picadeiro, no entanto, não foi uma invenção de Astley. Na verdade, o picadeiro era o local onde se treinavam cavalos, sendo adotado posteriormente pelos praticantes de truques. Além de permitir que o público visse os hipistas durante suas performances (algo que seria impossível se esses profissionais fossem forçados a galopar em linha reta), andar em círculos em um anel também fazia com que os cavaleiros mantivessem o equilíbrio enquanto executavam seus truques mais arriscados.

O nascimento do primeiro circo

Pintura retratando circo antigo

Em 1770, o considerável sucesso de Astley como artista já havia superado a sua reputação como professor. Depois de duas temporadas em Londres, ele precisou trazer novidades para suas performances. Consequentemente, ele contratou acrobatas, dançarinos e malabaristas, intercalando seus atos entre suas exibições. Outra adição ao espetáculo foi um personagem emprestado do teatro isabelino, o palhaço, que preenchia os períodos de pausa entre os atos com apresentações de malabarismo, cambalhotas, danças em cordas e humor.

Com isso, nascia o circo moderno, uma combinação de exibições equestres e feitos de força e agilidade. Astley abriu o primeiro circo desse tipo em Paris no ano de 1782, nomeando-o Amphithéâtre Anglois. Nesse mesmo ano, seu primeiro concorrente surgiu através do cavaleiro Charles Hughes (1747-97), um ex-membro da empresa de Astley. Em associação com Charles Dibdin, compositor prolífico e autor de pantomimas, Hughes abriu um anfiteatro e escola de equitação em Londres, a Royal Circus e a Equestrian Philharmonic Academy.

Em 1793, Hughes foi se apresentar na corte de Catarina, a Grande, em São Petersburgo, Rússia. Nesse mesmo ano, um de seus alunos, o equestre britânico John Bill Ricketts (1769-1802), abriu o primeiro circo nos Estados Unidos, na Filadélfia. Em 1797, Ricketts também estabeleceu o primeiro circo canadense, em Montreal. Seu único rival na América, o equestre britânico Philip Lailson (que veio para os EUA em 1795), levou o circo para o México em 1802.

As performances de circo eram originalmente feitas em estruturas de madeira temporárias, mas com o passar dos anos, todas as grandes cidades europeias já ostentavam pelo menos um circo permanente, cuja arquitetura podia competir com os teatros mais extravagantes. Edifícios semelhantes também foram erguidos em grandes cidades do continente americano, como Nova York, Filadélfia, Montreal e Cidade do México.

Os circos nos dias atuais

Apresentação de um circo contemporâneo

Embora os circos dos dias de hoje ainda compartilhem características dos circos antigos, um novo gênero de artes cênicas desenvolvido no final do século 20 tem conquistado o coração de muita gente. Denominado “circo contemporâneo”, esse gênero foca em uma história ou tema que é transmitido ao espectador por meio de habilidades circenses tradicionais.

Os animais raramente são usados nesse tipo de performance e as habilidades circenses tradicionais são combinadas com uma abordagem mais orientada ao caráter. Se for comparada com a dos circos tradicionais do passado, essa abordagem contemporânea tende a concentrar mais atenção no impacto estético geral, muitas vezes no desenvolvimento de personagens e histórias, no uso da iluminação, música original e figurino para transmitir conteúdo temático ou narrativo.

Curiosamente, essas novas abordagens com relação aos circos tradicionais também levaram à criação de uma infinidade de circos experimentais, especialmente na Inglaterra, França, Alemanha, Austrália e Canadá. Alguns deles conseguiram ser extremamente bem-sucedidos, como o circo francês de Archaos, cujo foco dos espetáculos gira em torno de acrobacias perigosas, como malabarismos com serra elétrica e globos da morte.

Pode-se argumentar que a mistura das artes circenses tradicionais com as sensibilidades estéticas contemporâneas e técnicas teatrais revitalizou o interesse e o apetite do público em geral pelo circo. Certamente, a história de sucesso mais notável foi a do Cirque du Soleil, a companhia canadense de circo cuja receita anual estimada atualmente ultrapassa US $ 810 milhões e cujos novos espetáculos de circo já foram vistos por quase 90 milhões de espectadores em mais de 200 cidades nos cinco continentes.

O mundo circense é incrivelmente mágico, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!