Qualquer pessoa certamente associa os grandes cassinos a cidades como Las Vegas, certo? Afinal, trata-se da capital mundial do entretenimento, com um estabelecimento de jogos praticamente em cada esquina. No entanto, o que muitos não sabem é que o Brasil também já teve sua época de cassinos em diversos momentos de sua história.

Desde o período imperial até a Era Vargas, a jogatina marcou época no país, seja em cassinos clandestinos, seja em estabelecimentos devidamente regularizados. Conheça um pouco mais dessa história de cassinos no Brasil.

O surgimento dos cassinos

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Cassinos foram frequentados pela elite brasileira em diversas épocas. Foto: Reprodução/Diario do Rio

Embora a história dos cassinos por aqui esteja mais relacionada ao período republicano, o seu real surgimento se deu muito antes. É preciso voltar a 1808, ano em que a corte portuguesa se instalou no Rio de Janeiro fugindo de Napoleão Bonaparte – fato que foi considerado o pontapé inicial para o estabelecimento do Império em 1822, com a declaração de Independência.

Com a chegada da corte real, vieram também os diversos costumes europeus. Naquela época, os estabelecimentos voltados para os jogos eram comuns no velho continente, e os primeiros cassinos começaram a surgir no país.

Essa primeira fase de cassinos no Brasil durou até 1917, quando a República já estava consolidada. Naquele ano, a prática de jogos de azar foi proibida durante o governo do presidente Venceslau Brás. Porém, isso não significou o fim da jogatina: os cassinos seguiram funcionando na clandestinidade.

Era Vargas: o período áureo dos cassinos

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Shows de Carmem Miranda marcaram o período áureo dos cassinos no Brasil. Foto: Reprodução

O grande ano de mudança para a situação dos cassinos no Brasil foi 1934, quando o país vivia o período da chamada Segunda República sob o comando de Getúlio Vargas. Naquele ano, o presidente liberou os jogos de azar e o funcionamento dos cassinos.

Por mais de uma década, os jogos de azar viveram seu período de ouro no país e trouxeram diversos benefícios ao país, não apenas em termos de entretenimento. O turismo cresceu e a atividade relacionada aos cassinos gerou milhares de empregos – mais de 40 mil, segundo estimativas.

Os cassinos não viviam apenas de roleta, bacará, blackjack, poker e outros jogos: eles também eram palco de grandes espetáculos, com artistas nacionais e internacionais. Nomes como Grande Otelo, Carmem Miranda, Luz del Fuego, Elvira Pagã e Virgínia Lane brilharam nas noites cariocas, entretendo a noite da elite que se divertia nos estabelecimentos entre uma jogatina e um show.

Os grandes cassinos brasileiros

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Cassino da Urca era palco de grandes espetáculos: Foto: Reprodução

A história dos cassinos no país confunde-se com a história do Rio de Janeiro. Afinal, a Cidade Maravilhosa era o grande centro de cultura e entretenimento do Brasil – além, é claro, de ser a capital federal naquele momento (até 1960, quando a sede do governo foi transferida para a recém-construída Brasília).

Foi na capital fluminense que se estabeleceram os maiores cassinos do Brasil. O mais emblemático de todos foi o Cassino da Urca, fundado em 1933 em um edifício que antes abrigava o Hotel Balneário, de frente para a Baía da Guanabara.

Muitos anos antes de ser palco do programa “Cassino do Chacrinha”, na TV Tupi, o local foi a grande referência em jogos de azar no país, além de ser um reduto de orquestras e espetáculos. Foi lá que Carmem Miranda viveu seu auge, com diversas apresentações. Também passaram pelo cassino da Urca nomes internacionais como Maurice Chevalier, Josephine Baker e Bing Crosby.

Em Copacabana, estavam localizados outros dois grandes estabelecimentos. Um deles era o Cassino Atlântico, que eternizou as “Noites do Rio de Janeiro” com apresentações de Lamartine Babo, Francisco Alves, Virgínia Lane e outras vedetes. Também havia o tradicionalíssimo Copacabana Palace – que existe até hoje, mas sem o cassino. O luxuoso “Copa” já recebeu personalidades como Walt Disney, Frank Sinatra, Rita Hayworth e até Albert Einstein.

Embora o Rio de Janeiro fosse o grande centro de cassinos, eles também estavam espalhados por outros cantos do país. Em Santos, por exemplo, havia o Parque Balneário Hotel, o Ilha Porchat Clube e o Casino Monte Serrat. Minas Gerais também teve os seus, com destaque para o Grande Hotel de Araxá e o Cassino da Pampulha. Estima-se que havia cerca de 70 cassinos no país naquela época.

Dutra e a segunda proibição

Como diz o ditado, “tudo que é bom dura pouco”. No caso dos cassinos, foram apenas 12 anos. No dia 30 de abril de 1946, por meio do decreto-lei 9.215, o presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os jogos de azar em todo o país. Especula-se que tenha sido influenciado por sua esposa, que era muito religiosa e contrária aos jogos.

Era a segunda vez que os cassinos eram proibidos no país. Naquela mesma noite, no Copacabana Palace, aconteceu a última rodada de roleta no Brasil – ou pelo menos a última legalizada. Embora alguns estabelecimentos tenham sobrevivido, como o próprio Copa, outros sucumbiram, caso do Cassino da Urca.

Mais de sete décadas depois, o jogo de azar segue proibido no Brasil, mas há projetos em andamento no congresso para regularizar novamente o setor, embora ainda haja muita resistência por parte de alguns grupos mais conservadores e religiosos. Os argumentos favoráveis são de que a instalação de cassinos atrairia turistas e geraria empregos – como foi nas décadas de 30 e 40 do século passado. Já os contrários temem que a prática seja associada à corrupção e lavagem de dinheiro, além de contribuir para a geração de problemas pessoais e financeiros com vícios.

Embora a regulamentação para a volta dos cassinos físicos ainda siga em trâmite, o mercado de jogos online segue crescente com diversos grupos internacionais operando no setor de cassinos e casas de apostas na internet. São, portanto, uma alternativa para quem quer fazer sua jogatina sem sair de casa.

Na América do Sul, cassinos já são realidade

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Casino Buenos Aires funciona dentro de um navio na capital argentina. Foto: Divulgação

Já aqueles que preferem apostar em um cassino de verdade, a boa notícia é que não é preciso viajar até Las Vegas ou à Europa, que são os grandes centros de jogos de azar no planeta. Muitos países da América do Sul tem a atividade legalizada e podem ser boas alternativas.

Na tríplice fronteira de Foz do Iguaçu há boas opções, tanto do lado paraguaio quanto argentino. É o caso do Casino Iguazú, um dos mais luxuosos do continente, que fica na cidade de Puerto Iguazu, na Argentina. Na capital do país, há o Casino Buenos Aires, que fica ancorado em um navio em Puerto Madero – uma brecha encontrada na legislação da cidade, já que não são permitidos cassinos territoriais.

As duas maiores referências em cassino na América do Sul são as cidades de Punta del Este, no Uruguai, e Viña del Mar, no Chile, famosas por abrigarem grandes torneios de poker e encherem de turistas durante todo o ano.

Se seguir o exemplo de seus vizinhos, o Brasil em breve terá seus cassinos novamente – provavelmente nos chamados resorts integrados, ideia inicial do Ministério do Turismo para o retorno dos jogos de azar no país. Se isso de fato acontecer, poderemos ter um gostinho do que foi o período de ouro dos cassinos no Brasil…