A vida moderna é cheia de conveniências, mas poucas coisas são tão convenientes quanto o pão fatiado. Para fazer um sanduíche, tudo o que você precisa fazer é abrir um saco e tirar o número desejado de fatias pré-cortadas. Não há necessidade alguma de tirar o pão inteiro, cortá-lo com uma faca ou se deparar com as incômodas bordas quebradas. Agora imagine alguém tentando proibir esse alimento. Bizarro, não é mesmo? Pois bem, foi exatamente isso o que aconteceu nos Estados Unidos no século passado.
Isso aconteceu mais especificamente no ano de 1943. A Segunda Guerra Mundial estava em pleno andamento e o governo americano, assim como a maioria dos países aliados, estava tentando conservar recursos e alimentos por causa da escassez que as batalhas promoviam. A War Food Administration (Administração de Alimentos de Guerra) foi criada exatamente com a finalidade de supervisionar a produção e distribuição de alimentos para atender às necessidades dos civis e dos combatentes da guerra. Na prática, a sua principal função era evitar o desperdício de alimentos. Claude R. Wickard, chefe do órgão na época, foi quem teve a ideia de proibir o pão de forma, pois segundo ele, o alimento estava fazendo os americanos “comerem mais do que deviam”.
Então, várias campanhas passaram a encorajar as pessoas a comer menos pão e a usar ingredientes caseiros ou em substituição à panificação. As autoridades até chegaram a incitar as pessoas a comer devagar e somente quando estavam com fome absoluta. A fim de suprimir ainda mais o consumo de pão, o Ministério da Alimentação proibiu a venda de pão recém-assado e ordenou que todo pão que fosse vendido só 12 horas depois de sua produção. A ideia por trás dessa medida bizarra era que o pão velho teria um gosto menos apetitoso, fazendo com que as pessoas tivessem menos vontade de comer.
Acredita-se que Claude R. Wickard se sentia muito desconfortável em dizer às pessoas para racionarem um alimento tão básico como o pão, por isso ele inventou uma desculpa para proibir o pão fatiado. Quando a proibição entrou em vigor em 18 de janeiro de 1943, ela especificava que o pão fatiado deveria ter um invólucro mais pesado do que o pão comum. Esse embrulho mais pesado exigiria que o papel fosse submetido a um processo de enceramento e como os americanos estavam focados em derrotar os inimigos na guerra, o país tinha coisas mais importantes a fabricar do que o tal papel encerado.
Embora a conservação do trigo até fizesse um certo sentido, é preciso deixar claro que naquela época os EUA tinham uma enorme reserva de grãos graças a uma boa colheita, que era suficiente para durar dois anos, mesmo que nenhum trigo novo fosse colhido nesse período. Isso gerou muita revolta, pois boa parte da população acreditava que a razão por trás da proibição era na verdade a conservação do metal das máquinas elétricas de cortar pão. Mas no final das contas, o motivo da proibição nunca ficou claro.
Finalmente, em 8 de março de 1943, a proibição foi suspensa. Em um comunicado ao público, as autoridades confessaram que as economias não alcançaram os índices desejados e que a partir daquele dia haveria papel de cera suficiente nas mãos dos padeiros para embrulhar o pão fatiado pelos meses seguintes.
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