Muito provavelmente você já deve ter assistido algum filme animado onde os animais andam sobre duas pernas, usam roupas a todo momento, pegam ônibus coletivos, trabalham em diferentes empregos e, é claro, conversam sobre os fatos do cotidiano. Obviamente, o mundo retratado nesses filmes não existe na realidade, o que pode até nos fazer pensar em que a nossa convivência com essas criaturas provavelmente seria muito diferente se pudéssemos nos comunicar efetivamente uns com os outros. É claro que os animais de uma mesma espécie podem facilmente se comunicar uns com os outros, mas o fato é que a nossa linguagem é muito diferente da que é usada pelos animais. Então, o que torna a linguagem humana tão especial? E por que os animais não falam como os humanos?

Diferenciando comunicação e conversação

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Primeiramente, precisamos levar em conta o fato de que comunicação e conversação são termos bastante ambíguos, o que faz uma grande diferença na hora de definirmos o que significa o ato de “falar”. De fato, todas as espécies se comunicam, já que a comunicação é a chave delas para a sobrevivência. Até mesmo os organismos unicelulares têm a capacidade de se comunicar de alguma forma. No entanto, essa comunicação não precisa se apresentar na forma da palavras faladas, já que ela pode ser feita através de ações, gesticulações, liberação de produtos químicos, produção de sons ou até mesmo danças. Além disso, a comunicação dos animais é geralmente inerente, já que uma criatura jovem não precisa aprender a como se comunicar com os seus pais. Por exemplo, um cão não precisa de treinamento para abanar o rabo quando deseja demonstrar que está feliz, da mesma forma que ele não precisa ser ensinado a latir nos momentos em que se sente ameaçado. Ou seja, a comunicação é, em muitos casos, um comportamento inato e não requer ensino e é exatamente isso o que difere a comunicação da conversação.

Para nos relacionarmos de forma eficaz, nós (seres humanos) precisamos aprender línguas diferentes através dos nossos pais ou de outros seres humanos. Por causa disso, o ato de “falar” se torna algo único e extremamente complexo, já que se trata de uma combinação de sons e sílabas organizados em vários arranjos e comprimentos para expressar vários pensamentos, emoções e ideias. Além da produção básica do som, um componente principal da fala é o significado por trás da palavra. As palavras “cachorro” ou “maçã”, por exemplo, não têm o mesmo significado para as pessoas que não são falantes da língua portuguesa. De fato, um mesmo som pode ter diferentes significados em idiomas distintos. Da mesma forma, um mesmo objeto pode ter nomes diferentes em idiomas diferentes. Ou seja, a raiz da questão aqui é que, o simples ato de “falar” envolve muito mais do que a simples produção do som, incluindo a identificação do significado por trás de cada palavra.

Tá, mas por que os animais não podem falar?

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Agora que entendemos e simplificamos o ato de falar, podemos finalmente abordar a pergunta acima. Bem, quando pensamos em por que os animais não podem falar, precisamos primeiramente descobrir por que eles não podem realizar duas ações simultaneamente: comunicar e conversar. A palavra “simultaneamente” é essencial nesse sentido porque existem animais que são notoriamente conhecidos por realizar pelo menos uma das duas funções, embora isso não pode ser considerado algo como “falar”, pelo menos não da mesma forma como nós, seres humanos, falamos. Por exemplo, os papagaios conseguem “imitar” os sons feitos por humanos, mas eles não entendem os significados desses sons, o que compromete a sua conversação. Por outro lado, no caso dos humanos, existem várias razões que podem ser atribuídas à nossa capacidade de falar. Tal como acontece com muitas funções biológicas, a extensão e precisão destes fatores ainda não são completamente compreendidas, mas podemos tirar conclusões interessantes.

As primeiras e mais óbvias conclusões que os pesquisadores adotaram dizem respeito ao fato de que o nosso corpo é estruturado de forma diferente. Mais especificamente, nós possuímos mandíbula, língua, laringe e cordas vocais que servem como instrumentos perfeitos para a conversação. No entanto, não são apenas essas coisas que nos tornam seres “únicos” em termos de conversação. Por exemplo, a “área de Broca” no cérebro humano pode ser uma das regiões mais intimamente associadas à nossa compreensão da fala. Os seres humanos se destacam nesse quesito porque esta parte do cérebro é menos desenvolvida ou ausente em outros animais. Portanto, acredita-se que seja ela o que realmente nos confere a capacidade de falar. Além disso, os nossos corpos também contam com a presença de certos “caminhos estratégicos”, que por sua vez são encontrados apenas em alguns animais. Esses caminhos servem como instrumentos em nossas habilidades vocais. Curiosamente, os outros grupos de animais que possuem esses “caminhos” são pássaros, como papagaios, assim como mamíferos, como morcegos e cetáceos, que consequentemente conseguem produzir sons relativamente semelhantes ao que nós podemos produzir.

A resposta também pode estar papel do gene FOXP2

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Por incrível que pareça, um outro fator que nos confere essa capacidade de aprender e manter uma fácil conversação é um gene denominado “FOXP2”. Na prática, este gene é responsável pela ativação de alguns dos nossos outros genes, que por sua vez que são comumente relacionados ao desenvolvimento da linguagem, incluindo a capacidade gramatical de formar novas palavras. De fato, caso esses genes apresentem respostas disfuncionais, eles podem levar ao surgimento de vários problemas relacionados à fala e à linguagem. No entanto, como o gene FOXP2 é o responsável por ativar outros genes, ainda não está totalmente claro o que nessa estrutura é realmente responsável pela fala e pela linguagem.

Outra teoria, apresentada pela autora e antropologista Elaine Morgan, sugere que a nossa capacidade de falar também pode estar bastante ligada ao nosso caminho evolutivo. Segundo ela, as dificuldades enfrentadas pelos nossos ancestrais pode ter feito com que aprendêssemos a controlar melhor e de forma consciente a nossa respiração, o que nos permite fazer os sons necessários para falar. Essa característica, em conjunto com o nosso cérebro altamente complexo, acabou se tornando a chave necessária para abrir a possibilidade de mantermos conversas longas e totalmente racionais. De fato, animais como papagaios e até alguns elefantes podem imitar sons humanos e palavras, mas como foi destacado anteriormente, esses animais não entendem o significado dessas palavras, o que anula as suas capacidades de conversação. Ou seja, embora outros animais mostrem uma certa capacidade de imitar os sons feitos por nós, ou até tenham os seus próprios métodos de comunicação interna, nenhum outro animal conseguiu mostrar a mesma capacidade de conversação que os humanos até o momento. Nesse caso, ponto para nós!

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