Certas espécies de animais desenvolveram uma adaptação que lhes permite resistir a longos períodos de tempo quando os alimentos são escassos. Esse estado é conhecido como “hibernação”. Só que, embora muita gente já saiba o que a hibernação significa, poucas pessoas sabem que o que acontece quando um animal hiberna é muito mais dramático do que simplesmente ficar deitado para tirar uma soneca prolongada. Na prática, várias mudanças metabólicas extremas ocorrem durante esse período.

Tanto as taxas de batimentos cardíacos quanto as taxas de respiração dos animais tendem a diminuir quando eles hibernam, o que também faz com que a temperatura dos seus corpos diminua. O mais interessante disso tudo é que, dependendo da espécie, dias ou até semanas podem passar sem o animal acordar para beber, comer ou até mesmo “se aliviar”.

De fato, a palavra “hibernação” é derivada do latim “hibernare”, que significa “passar o inverno”. O termo se popularizou no final do século XVII, em referência a um estado de adormecimento originalmente visto em algumas espécies de insetos e plantas, sendo posteriormente aplicado a outros animais a partir do século XVIII. Muitos tipos de mamíferos são reconhecidos como hibernadores, incluindo morcegos, roedores, ursos e até primatas, como algumas espécies de lêmures.

Ao longo desse post, nós vamos explorar alguns tópicos que ajudam a explicar o que ocorre nos corpos dos animais durante o período de hibernação.

Um sono prolongado

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A hibernação costuma estar ligada a mudanças sazonais que limitam o suprimento de alimentos. Na prática, ela é identificada pela supressão metabólica, uma queda na temperatura corporal e torpor (um estado semelhante ao sono) intercalado por breves períodos de vigília. Embora certas espécies de peixes, anfíbios, pássaros e répteis permaneçam adormecidos durante os meses frios do inverno, a hibernação geralmente está associada a mamíferos.

Os mamíferos endotérmicos (mais conhecidos como animais de “sangue quente”) costumam gerar uma temperatura corporal mais alta que o ambiente, mas precisam de uma fonte constante de energia para manter seus “motores funcionando”. É por isso que, quando essa fonte de energia se torna difícil de encontrar, a hibernação pode ajudá-los a enfrentar condições adversas.

Durante as épocas do ano em que essa fonte de energia se torna escassa, especialmente nos países de clima mais frio ao norte, a hibernação entra em cena servindo como um mecanismo de interrupção temporária das atividades que demandam uma grande quantidade de energia. Desse modo, os animais que hibernam costumam se alimentar intensamente durante os poucos meses em que a comida é abundante, acumulando gordura para depois dormir e sobreviver através de suas reservas.

Curiosamente, um tipo especial de gordura chamado “gordura marrom” costuma se acumular nos mamíferos em hibernação. Os morcegos que hibernam desenvolvem a tal gordura marrom nas costas, mas os outros mamíferos também podem armazenar gordura marrom na barriga e em outras partes do corpo. A gordura marrom torna-se valiosa nesse período porque o animal em hibernação tende a esgotá-la muito lentamente, reduzindo seu metabolismo para apenas 2% da sua taxa normal.

Mantendo o corpo frio e em marcha lenta

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Uma das características mais interessantes que ocorrem durante a hibernação é a a redução da temperatura corporal. Para se ter uma ideia, ela pode cair para até menos de 3 ºC nos esquilos-terrestres do Ártico! Um único ciclo de hibernação dos esquilos-terrestres do Ártico dura cerca de duas a três semanas, sendo que os animais despertam de maneira “bastante consistente” por 12 a 24 horas, antes de retomar o sono de inverno. Eles repetem esse processo por até oito meses!

Mas, embora os esquilos do Ártico mantenham uma temperatura corporal mais baixa do que qualquer outro mamífero em hibernação, as mudanças em seus corpos em geral não são tão diferentes daquelas que ocorrem em outros mamíferos em hibernação. Na prática, os eventos que ocorrem durante a hibernação dos mamíferos costumam ser bastante semelhantes, desde ursos a esquilos. De fato, a única característica facilmente distintiva é o quão frio eles conseguem deixar os seus corpos.

Os répteis e a hibernação

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Quando os mamíferos ficam “desligados” durante a hibernação, eles não respondem a sinais externos, ou quando fazem, desempenham isso em “câmera lenta”. No entanto, os répteis não são assim. Na prática, se você invadir o local onde eles estão hibernando, eles certamente olharão para você e até poderão responder de uma forma pouco amigável.

No entanto, a hibernação em répteis nunca foi tão estudada quanto a hibernação em mamíferos, pois um dos desafios envolve o fato de que a taxa metabólica dos répteis tende a ser muito baixa mesmo quando eles não estão hibernando.

Em outras palavras, o que ocorre é que, no caso de um mamífero, o declínio nas necessidades metabólicas costuma ser drástico durante a hibernação, enquanto que no caso dos répteis, torna-se muito mais difícil medir algo que já apresenta um nível absurdamente baixo.

Uma palavra final

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Com tudo o que foi analisado, podemos concluir que os animais hibernam para sobreviver a longos períodos em que a comida é escassa. As criaturas que hibernam geralmente comem muita comida antes da hibernação e depois sobrevivem através da energia armazenada em sua gordura.

Curiosamente, as mudanças físicas envolvidas na hibernação são muito mais extremas do que o que acontece durante o sono, pois essa extraordinária adaptação evolutiva não vem sem consequências. Na prática, esses animais podem perder um quarto do seu peso total durante o inverno, sem falar que o seu estado de sono pode deixá-los suscetíveis à predação.

Também vale destacar que ainda existem perguntas a ser respondidas dentro desse assunto envolvendo hibernação. Por exemplo, um fato que chama a atenção é que o processo exato que desencadeia a hibernação em alguns animais e não em outros ainda continua sendo motivo de debates. No entanto, em 2011, pesquisadores identificaram uma molécula específica no cérebro (a adenosina) que acredita-se estar ligada ao comportamento de hibernação visto nos esquilos-terrestres do Ártico.

As descobertas do estudo, que por sua vez foram publicadas na revista acadêmica The Journal of Neuroscience, mostraram que, ao ativar certos receptores cerebrais da adenosina, eles eram capazes de induzir estados de torpor nos esquilos do Ártico e posteriormente revertê-los, o que pode ser considerado um passo muito importante na identificação dos fatores que acionam o processo de hibernação.

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