Você já percebeu que os ossos, tanto dos seres humanos quanto de outros animais, demoram muito tempo para se decompor, mais do que qualquer outro tecido ou órgão do corpo? Em condições úmidas, os ossos humanos podem se decompor em questão de uma década ou mais, mas em um clima seco, pode ser necessário milhares de anos para que isso ocorra! Ou seja, os ossos se decompõem, mas a uma taxa muito mais lenta do que outros tipos de materiais orgânicos. Mas afinal, por que será que eles são tão resistentes? Bem, acontece que esse assunto exige uma resposta mais complexa e um pouco mais complicada do que parece à primeira vista, mas que é até surpreendentemente fascinante quando você “se aprofunda” um pouco mais. Tal como acontece com a maioria dos mistérios da ciência, não há apenas uma resposta para esta pergunta em particular, já que alguns dos os ossos se decompõem em taxas variáveis. Por isso, para entender corretamente a variabilidade dos ossos nos corpos de humanos e animais, um pouco de estudo sobre o seu processo de decomposição pode ser bastante útil.

Entendendo um pouco sobre a decomposição óssea

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Para início de conversa, é importante destacar que a decomposição é um fenômeno que acontece com toda a matéria orgânica. Apesar de todo organismo se decompor de uma maneira diferente, o conceito básico é sempre o mesmo. Para reciclar a matéria orgânica, processos químicos dividem os organismos em formas mais “simples”, que por sua vez podem ser absorvidas e reutilizadas dentro do próprio bioma. Isso afeta tudo o que é considerado “vivo”, desde árvores e fungos a animais terrestres e aves. Os corpos podem ser decompostos de duas maneiras principais: por processos químicos/físicos, ou por outros organismos vivos que “quebram” o tecido vivo. A taxa de decomposição também depende de muitos fatores, incluindo a temperatura, a umidade, a presença de insetos, a exposição ao ar, a acidez do solo e dezenas de outras variáveis. Desse modo, um corpo humano pode perder toda a sua carne e tecido em menos de uma semana, mas também pode permanecer “intacto” por milhares de anos. Tudo depende das condições em que o corpo está e a mesma coisa vale para o tecido ósseo.

Tá, mas e quanto à decomposição dos ossos?

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Embora muitas pessoas acreditem que os ossos nunca se decompõem, a verdade é que quando você pensa sobre isso, percebe que isso seria logicamente impossível. Depois de todas as centenas de milhões de anos de vida neste planeta (nos quais os humanos só estão por aí por uma fração mínima), se os ossos nunca se deteriorassem, nós poderíamos vê-los por toda parte! Felizmente, nesse quesito, os ossos não são tão diferentes da nossa carne e do nosso sangue. Até podemos pensar neles como partes sólidas e firmes do nosso esqueleto que podem se romper como um pedaço de giz quando somos feridos gravemente, mas a verdade é que os ossos são tecidos vivos, assim como nossos outros órgãos, contendo vasos sanguíneos e nervos.

Um processo minucioso

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Os ossos são em grande parte compostos de colágeno, que cria uma matriz porosa forte, ao invés de uma estrutura sólida. Portanto, os mesmos processos químicos, físicos e micro-orgânicos que quebram os outros tecidos do corpo também farão com que eles se decomponham. Desse modo, se um corpo é exposto a um lugar com muita água, insetos, ao ar livre ou um solo altamente ácido, grupos de bactérias e fungos serão capazes de invadir essa rede porosa ao procurar as proteínas do colágeno dentro das ossadas, o que faz com que esses ossos se “quebrem” e, eventualmente se “transformem em pó”. No entanto, se um corpo é enterrado em um clima quente e árido, fica muito mais difícil para as bactérias e fungos sobreviverem nessas condições, o que consequentemente dificulta a “decomposição ao modo tradicional”.

Alguns ossos podem “ficar para sempre”?

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Alguns ossos conseguem alcançar uma verdadeira imortalidade e você provavelmente já viu alguns deles ao longo de sua vida, provavelmente em museus. Na prática, os chamados “fósseis” são ossos que ficaram tão rapidamente envoltos em sedimentos que fizeram com que o ar ficasse completamente bloqueado, tornando impossível a ocorrência de qualquer decomposição. Isso pode ser visto mais facilmente no caso de erupções vulcânicas e outros eventos catastróficos que deslocam grandes quantidades de sedimentos na terra. É por isso que apenas uma fração extremamente pequena de organismos vivos consegue ser fossilizada e, mesmo assim, os fósseis nem são necessariamente “ossos puros”, se os analisarmos de um ponto de vista mais técnico. De certo modo, os fósseis até podem ser considerados ossos que nunca se decompuseram totalmente, mas ao longo do tempo, os minerais nos materiais circundantes passaram a invadir o seu tecido vivo, substituindo as células vivas do tecido ósseo por rochas. Então, quando falamos sobre ossos de dinossauros sendo desenterrados depois de milhões de anos, estamos apenas escavando uma mistura de rochas antigas com os materiais dos ossos originais, cuja parte principal tecnicamente já se foi.

Ossos minimamente intactos podem ser muito mais raros do que você imagina!

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Ossos que permanecem intactos por milhares de anos sem remineralização (que é o processo que transforma os ossos em algum tipo de material fóssil) são bastante raros. De fato, os mais antigos que os humanos já chegaram a descobrir ao redor do planeta têm cerca de 2,8 milhões de anos e foram encontrados na região de Afar, que na prática serve como um estado étnico da República Federal da Etiópia. No entanto, os exemplos mais famosos de ossos antigos que permanecem intactos são provenientes do Egito, onde a misteriosa prática de mumificação impediu que grande parte dos ossos pudessem se decompor em certos casos. De fato, todo o processo de mumificação desenvolvido pelos egípcios era bastante engenhoso e muito eficaz. Quando poderosos sais secantes, como o natrão, eram usados ​​para limpar o corpo de quaisquer líquidos restantes, isso consequentemente impedia que bactérias e fungos iniciassem o processo de decomposição. Além disso, uma vez que a múmia era selada em linho e posteriormente colocada em um sarcófago, a falta de oxigênio e umidade no local automaticamente impedia a quebra dos tecidos e dos ossos em si.

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