Se você costuma ficar por dentro do que acontece pelo mundo, já deve saber que vários protestos violentos têm ocorrido em Hong Kong recentemente. No dia 1º de julho, uma segunda-feira, manifestantes invadiram e vandalizaram o prédio do parlamento de Hong Kong, o que acirrou ainda mais os ânimos de vários honcongueses desde então.

As manifestações começaram perto do Conselho Legislativo, quando uma cerimônia foi realizada para marcar o aniversário da transferência de Hong Kong do domínio britânico para a China. Em termos básicos, esses protestos serviram como uma resposta de boa parte da população contra um projeto de lei que busca permitir a extradição de cidadãos de Hong Kong para a China continental.

No entanto, existem outros fatores importantes (alguns dos quais remontam a décadas) que ajudam a explicar melhor o que está acontecendo nesse local. Ao longo desse post, você vai conhecer um pouco dos principais fatores que fazem de Hong Kong um dos lugares mais politicamente complexos do mundo.

O início de tudo

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Antes de tudo, é muito importante deixar claro que Hong Kong é significativamente diferente de outras cidades chinesas. Para entender isso, nós precisamos olhar para a sua história.

Basicamente, Hong Kong foi uma colônia britânica por mais de 150 anos, tendo sido cedida pelos chineses ao Reino Unido após a Guerra Anglo-Chinesa de 1842. Como parte do acordo, a China entregou o território para os britânicos por um prazo de 99 anos.

Durante esse tempo, Hong Kong tornou-se um porto comercial movimentado, de modo que sua economia decolou consideravelmente nos anos 1950, quando se tornou um centro de produção desenvolvido. Além disso, esse território também passou a ser popular entre os migrantes e os dissidentes que fugiam da instabilidade, da pobreza ou da perseguição na China continental.

Um país, dois sistemas

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No início dos anos 80, quando o prazo final do arrendamento de 99 anos se aproximava, a Grã-Bretanha e a China iniciaram várias conversas para discutir sobre o futuro de Hong Kong, sempre com o governo chinês argumentando que toda Hong Kong deveria voltar ao domínio do país. Os dois lados finalmente chegaram a um acordo em 1984, concluindo que Hong Kong retornaria à China em 1997, sob um princípio que ficou conhecido como “um país, dois sistemas”.

Na prática, isso significava que, embora ainda se tornasse parte integrante da China, Hong Kong passaria a ter um alto grau de autonomia, exceto em assuntos estrangeiros e de defesa, por um período de 50 anos. Como resultado, Hong Kong passou a ter o seu próprio sistema legal, fazendo com que os seus moradores desfrutassem de mais direitos civis que os chineses da China continental.

Mudanças à vista

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Apesar de Hong Kong ainda desfrutar de liberdades não vistas na China continental, muitos críticos dizem que esses direitos estão em declínio. Grupos de direitos humanos acusaram a China de interferir em Hong Kong, citando exemplos como decisões judiciais que desqualificaram legisladores pró-democracia. Eles também se mostram preocupados com os desaparecimentos de críticos do governo chinês, que muitas vezes acabam “ressurgindo misteriosamente” sob custódia na China continental.

Artistas e escritores também dizem que estão sob crescente pressão para se autocensurarem. Recentemente, um jornalista do Financial Times foi impedido de entrar em Hong Kong depois de ter organizado um evento que contou com um ativista da independência. Outro ponto crítico também tem sido as constantes reformas políticas pró-China. Para se ter uma ideia, nem todos os 70 membros do órgão legislativo do território, o Conselho Legislativo, são escolhidos diretamente pelos eleitores de Hong Kong. De fato, a maioria dos assentos não eleitos diretamente é ocupada por legisladores pró-Pequim.

A própria “mini-constituição” de Hong Kong, a Lei Básica, diz que, em última análise, tanto o líder como o Conselho Legislativo, devem ser eleitos de uma forma mais democrática, mas mesmo assim tem havido desacordos sobre como isso deve ser na prática. O governo chinês disse em 2014 que permitiria que os eleitores escolhessem seus líderes através de uma lista previamente aprovada, mas os críticos chamam isso constantemente de “democracia falsa”. Além disso, a Lei Básica deverá expirar em 2047, levantando ainda mais dúvidas sobre o futuro da autonomia de Hong Kong após esse período.

O motivo central dos protestos

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Os protestos ocorridos recentemente tem como objetivo principal se opor à Lei dos Foragidos, que na prática, permite que as autoridades de Hong Kong extraditem pessoas suspeitas não apenas para a China continental e Taiwan, mas para qualquer país com o qual ainda não tenham um acordo de extradição. Caso a ideia central da lei não sofra um revés, caberá à chefe do Executivo do território dar a palavra final.

O problema é que, segundo os críticos, a chefe do Executivo de Hong Kong poderia ser pressionada a apoiar um pedido de extradição feito pela China continental pelo fato de ser escolhida por uma comissão do governo central em Pequim. Ou seja, os críticos ao projeto de lei afirmam que, com a sua aprovação, haverá uma maior influência da China continental no campo jurídico em Hong Kong, o que na prática significa uma interferência ainda maior na autonomia já fragilizada do território.

Boa parte dos moradores locais não se sente confortável em viver sob as leis de Pequim, pois eles querem mais liberdade política e econômica, coisas que podem se tornar ainda mais difíceis de serem obtidas com a nova lei.

Protestos não são incomuns em Hong Kong

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Como você pode ver, embora os moradores de Hong Kong tenham um certo grau de autonomia em teoria, na prática eles têm pouca liberdade até mesmo na hora do voto, o que significa que os protestos são uma das poucas maneiras pelas quais eles podem realmente opinar. De fato, grandes protestos já ocorreram em 2003, quando 500.000 pessoas tomaram as ruas contra um controverso projeto de lei de segurança.

Outro conjunto de grandes manifestações ocorreu em 2014, quando os cidadãos do território passaram a exigir o direito de eleger seu próprio líder. Mas ainda assim, o movimento que acabou ficando conhecido como “revolta do guarda-chuva” acabou fracassando na maioria das suas reivindicações. Por isso, só nos resta esperar o desfecho de mais um caso de reação popular na conturbada história de Hong Kong.

Um tema mais complexo do que parece, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!