Já aconteceu de você ir para a sua cozinha com o objetivo de fazer alguma coisa e sua mente ficar em branco, de modo que você não fazia nenhuma ideia de por que estava lá? Já reconheceu alguma pessoa na rua, mas não tinha a menor ideia de qual era o seu nome? Já fez planos com alguém, mas acabou esquecendo completamente quando, onde e com quem deveria se encontrar? Pois bem, se pelo menos uma dessas situações já aconteceu na sua vida, saiba que você definitivamente não está sozinho.

Momentos como esses podem levar você a acreditar que tem uma memória “ruim”. De fato, muita gente acha que situações como essas servem como sinais de envelhecimento e perda de memória. No entanto, o cérebro humano é uma máquina incrivelmente complexa e misteriosa, de modo que os nossos poderes de memória são apenas alguns dos elementos mais enigmáticos dentro desse computador de alto processamento.

Embora algumas pessoas pareçam ter uma memória naturalmente boa e possam se lembrar de nomes, eventos e datas com uma grande precisão, o fato é que há muito mais nuances na memória do que simplesmente rotular a capacidade de memorização de uma determinada pessoa como “boa” ou “ruim”. Consequentemente, isso levanta uma questão um tanto inquietante: afinal de contas, por que algumas pessoas conseguem se lembrar de mais coisas do que outras?

Como são formadas as nossas memórias?

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Antes de abordarmos o que torna uma memória “boa” ou “ruim”, devemos entender primeiramente como as memórias são formadas. Devido à incrível quantidade de informações que coletamos todos os dias, é necessário um sistema eficiente para armazenas as memórias, pensar logicamente, estabelecer conexões e milhares de outras coisas que naturalmente fazemos a todo momento. O processo de formação da memória é, portanto, dividido em três etapas: codificação, armazenamento e recuperação.

A codificação ocorre quando captamos informações sensoriais e as transformamos em uma forma que o cérebro possa lidar. Esses três tipos de codificação são visuais, acústicos e semânticos. Por exemplo, quando você vê o nome na etiqueta de uma garçonete, você armazena essas informações visualmente (como uma imagem). Se você repetir o nome em voz alta, poderá codificar as informações acusticamente (como um som). Por fim, se ela tiver o mesmo nome de alguém próximo de você, como uma tia, você poderá armazenar as informações semanticamente (vinculadas a um significado).

Consequentemente, essas informações codificadas são movidas para a memória de curto prazo (STM), onde podem durar de 0 a 30 segundos, a menos que sejam ensaiadas ou consolidadas na memória a longo prazo. A consolidação da memória depende da passagem do tempo, ou seja, quanto mais tempo você mantém ativamente um pedaço de memória de curto prazo, mais resistente ele se torna a estímulos concorrentes ou a outros fatores que podem simplesmente “limpar a sua lousa”.

Desse modo, se as informações forem consideradas “importantes” ou “significativas”, elas serão transferidas para a nossa memória de longo prazo. É por isso que a repetição espaçada é tão eficaz na fixação de memórias, pois quanto mais você interage ou considera informações na memória a curto prazo, maior a chance de ela entrar na memória de longa duração.

Então, por que esquecemos das coisas?

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Agora que já entendemos um pouco do mecanismo que usamos para criar e armazenar memórias, podemos examinar por que esquecemos certas informações. Pois bem, existem quatro causas principais por trás do nosso “esquecimento”, que consequentemente leva tantas pessoas a duvidar de si mesmas e a acreditar que têm uma “memória ruim”. As quatro principais causas da perda de memórias são:

  • Falha na recuperação – Tende a ocorrer com o tempo, principalmente para memórias de curto prazo, caso as informações não sejam ensaiadas ou revisadas regularmente, pois as vias neuronais decaem e a memória desaparece, nunca chegado à memória de longo prazo.
  • Falha no armazenamento – Algumas informações que coletamos, mesmo que repetidamente, acabam não sendo armazenadas porque não são essenciais para a memória. Por exemplo, você pode se lembrar da cor do prédio onde vira à direita para entrar na sua rua, mas não consegue se lembrar do número de janelas na frente do mesmo prédio, pois essa parte da informação é menos relevante e, portanto, não faz sentido chegar à memória de longo prazo.
  • Interferências – Nossas memórias precisam apresentar características distintas para permanecerem claras e organizadas. Quando memórias, lugares, rostos, experiências e nomes semelhantes são armazenados juntos, pode ser difícil separá-los em pacotes distintos. Por exemplo, lembrar os eventos detalhados de uma reunião de família em detrimento de outra realizada no mesmo local e com os mesmos membros, acaba sendo mais difícil do que se as reuniões fossem realizadas em um local diferente a cada ano.
  • Esquecimento motivado – Algumas memórias podem ser esquecidas se forem dolorosas ou traumáticas. Embora esses eventos também possam entrar em nossa memória de longo prazo, a verdade é que somos capazes de ofuscar ou “esquecer” completamente essas memórias ruins. Existem maneiras de acessar essas memórias, como a hipnose, mas os conceitos compartilhados por técnicas desse tipo permanecem controversos no campo psicológico.

Então, por que algumas pessoas conseguem se lembrar de mais coisas?

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Como foi mostrado ao longo desse post, existem vários fatores que podem fazer com que algumas pessoas não consigam armazenar memórias de longo prazo. No entanto, na maioria dos casos, tal esquecimento costuma estar ligado ao fato de que muita gente não revisa as suas memórias com frequência. De fato, “refrescar a memória” é essencial para converter uma memória de curto prazo para uma de longa duração.

Desse modo, podemos concluir que a ideia de que algumas pessoas têm à respeito de supostas “memórias ruins” é um pouco imprecisa, ou pelo menos incompleta. As memórias são formadas através de processos no cérebro que entendemos muito bem e existem muitas técnicas comprovadas que podem ajudar a melhorar suas habilidades de memória. De fato, simples exercícios de repetição influenciam a qualidade da memória, tornando-a um objeto de estudo fascinante e flexível.

E você, consegue se lembrar das coisas com facilidade? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!