Para muitas pessoas, a presença de aranhas em suas casas acaba se tornando uma experiência muito desagradável. De fato, tem gente que, ao simplesmente ver um ser aracnídeo, já pensa em queimar a casa inteira! Para aqueles que têm medo de aranhas (aracnofóbicos), até mesmo o olhar de uma aranha é petrificante, mas a situação costuma ficar mais tensa quando essas criaturas de 8 pernas passam pelos seus corpos, traumatizando-os pelo resto da vida.

Apesar de nossa espécie contar com inteligência e racionalidade muito bem desenvolvidas, a maioria das vidas humanas é motivada por impulsos considerados irracionais, sendo que certos medos podem ser incluídos nesse conjunto. Na prática, isso ocorre porque a parte mais dominante do nosso cérebro ainda pensa que vive sob as mesmas condições de centenas de milhares de anos no passado, quando a nossa espécie sobrevivia em uma savana africana implacável e ameaçadora.

Alguns medos eram justificados pelas circunstâncias da época, como o medo da morte e, portanto, o medo de predadores, especialmente animais grandes e com dentes afiados, como leões e tigres. No entanto, quando falamos no caso das aranhas, é interessantes pensarmos que muitas pessoas se apavorem ao simplesmente ver um inseto de poucos centímetros de largura. Então, afinal de contas, por que tanta gente tem medo de aranhas?

Ao longo desse artigo, nós vamos analisar alguns tópicos que ajudam a explicar toda essa aversão que muita gente tem com relação às aranhas.

Uma questão de nojo e cultura

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As emoções que uma aranha suscita não gira em torno apenas do medo, mas servem também como uma combinação de nojo e astúcia. Muitos psicólogos concordam que evoluímos para sentir nojo e repulsa com regularidade, a fim de nos impedir de consumir ou entrar em contato com coisas que podem ser um veículo para doenças. Isso inclui fezes, vômitos, muco e qualquer coisa que compartilhe suas principais qualidades, como odor desagradável, cores suspeitas e viscosidade.

No entanto, embora estejamos programados para sentir nojo, existe também toda uma questão cultural. Alguns insetos (especialmente os aracnídeos) raramente exalam maus cheiros, tanto é que muitas culturas orientais se deleitam regularmente com eles ao transformá-los em comida. Embora muitos desses seres até sejam pegajosos e possam ser encontrados em ambientes “nojentos”, o fato é que a aracnofobia parece ter fortes raízes culturais.

De fato, o medo de aranhas ou de qualquer outro ser aracnídeo em geral costuma ser muito mais evidente nas culturas ocidentais. Para se ter uma ideia, algumas crianças classificam as aranhas como o seu maior medo, maior até mesmo do que serem sequestradas ou ficarem em algum lugar escuro. Curiosamente, o medo e o nojo de aranhas por parte dos ocidentais remontam à Idade Média, quando os europeus acreditavam que as aranhas eram a causa da Peste Negra (embora mais tarde fosse descoberto que os verdadeiros agentes eram os ratos).

Consequentemente, água e comida são consideradas “inadequadas” se as aranhas forem encontradas rastejando nelas. Vale destacar que a Homo sapiens é a única espécie em todo o planeta que, ao contrário de todas as outras criaturas, não requer mutações genéticas ou milhões de anos de adaptação para alterar seu comportamento. Por conta disso, mutações externas desenvolvidas em nossas culturas já são suficientes para moldar um determinado comportamento.

A poderosa ferramenta do condicionamento cultural

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Como você pode ver, desde a época da peste negra, muitas crianças ocidentais “aprenderam” que deveriam ter medo de aranhas depois de testemunhar seus pais gritando de medo ao vê-las. Consequentemente, esses descendentes ocidentais desenvolveram um imenso medo de aranhas, enquanto que os descendentes orientais, cujos pais nunca tiveram esse medo, continuaram a ser indiferentes a esse respeito. Ainda assim, pesquisas recentes indicam que o medo de aranhas pode ser algo muito mais profundo do que pensávamos.

Outro exemplo divertido que prova que o condicionamento social dita nossas crenças tem a ver quando aprendemos que certos conteúdos na televisão são considerados inadequados ou obscenos a depender de um determinado ponto de vista. Por exemplo, pais mais religiosos provavelmente se contorceriam ao ver seus filhos ouvindo Black Sabbath ou assistindo American Pie. Consequentemente, tal reação incutiria naquelas crianças a crença de que a devassidão é imoral e, portanto, deve ser evitada.

Obviamente, tal condicionamento leva anos para se tornar algo tão forte, por isso algumas questões ainda são bastante pertinentes. Por exemplo, a aracnofobia também está sujeita ao tempo? Se os pais parassem abruptamente de temer as aranhas, os medos de seus filhos deixariam de se desenvolver? Desse modo, eles cresceriam indiferentes às aranhas?

Por incrível que pareça, pesquisas recentes sugerem justamente o contrário, argumentando que algumas pessoas estão simplesmente “destinadas” a ter medo de aranhas, sejam elas condicionadas ou não. Em outras palavras, nós podemos estar “programados” para ter medo delas.

Programados para ter medo

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Para confirmar isso, pesquisadores do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas e do Cérebro Humano, na Alemanha, mostraram a bebês de seis meses imagens “realçadoras de medo”, que incluíam cobras e aranhas, e imagens “irrelevantes” de flores. Então, os pesquisadores mediram o medo ou estresse dos bebês com um rastreador infravermelho, um dispositivo que mede os níveis de noradrenalina, cuja secreção é desencadeada durante a nossa resposta de luta ou fuga.

Quando nosso corpo experimenta estresse ou medo, nossas pupilas se dilatam, o que permite que nossos olhos absorvam o máximo de informação possível. Em resposta às flores, as pupilas dos bebês dilataram 0,03 mm, mas em resposta a aranhas e cobras, a dilatação foi de 0,14 mm! Lembre-se de que as crianças eram jovens demais para serem condicionadas, ou seja, o estudo sugere que o medo de cobras e aranhas pode estar incorporado no nosso DNA.

Embora a quantidade de aranhas nas áreas urbanas tenha diminuído devido ao controle eficaz de pragas, os primeiros humanos viviam cercados por elas. Assim, as aranhas eram provavelmente tratadas como ameaça porque algumas espécies realmente são venenosas. Obviamente, as pessoas que evitavam o contato com essas criaturas tendiam a sobreviver e procriar mais do que as pessoas que não as temiam, criando um ciclo perfeito de medo e aversão.

Ou seja, em outras palavras, o que percebemos como um medo devastador pode ser, na verdade, um instinto da nossa sobrevivência, o que o divulgador científico, escritor e astrofísico americano Neil deGrasse Tyson costuma chamar de “bagagem evolutiva”.

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