Muitos de nós crescemos lendo e vendo histórias assustadoras sobre monstros, incluindo lobisomens, vampiros e múmias. De fato, essas criaturas continuam servindo como um material popular para várias ramificações da cultura pop, mas o fato é que, entre todos eles, os corpos mumificados são os únicos que existem no mundo real, embora não assombrem os corredores de suas tumbas.

Ainda que as múmias não carreguem consigo algum tipo real de maldição, algumas pessoas ainda acreditam que elas podem representar uma ameaça aos tempos modernos com base na suposta proliferação de vírus, patógenos ou doenças antigas que podem ter sido “mumificadas” juntamente com elas.

Até mesmo o derretimento de grandes camadas de gelo em todo o mundo e o aumento do ressurgimento de doenças mais antigas trouxeram uma questão pertinente de volta aos holofotes: afinal de contas, os animais e humanos mumificados podem transmitir doenças do mundo antigo?

As diferenças entre os principais tipos de múmias

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Antes que possamos entender se as múmias realmente podem ameaçar o mundo com algum vírus ou superbactéria, devemos primeiramente especificar o que queremos dizer com múmias. Você provavelmente já deve conhecer as múmias do Egito, muitas das quais foram embalsamadas e tratadas de várias maneiras para preservar a pele e os órgãos, impedindo a sua decomposição. Os corpos podem ser mumificados pelo uso de produtos químicos, drenagem de ar e umidade ou através da conservação em temperaturas extremamente baixas.

No caso das múmias egípcias, elas eram frequentemente embalsamadas, tratadas com produtos químicos e seladas em sarcófagos totalmente fechados, sendo posteriormente enterradas em túmulos. Por esse motivo, quando as múmias são descobertas nos dias de hoje, elas geralmente apresentam excelentes condições, mantendo algumas de suas características originais e tecidos antigos mesmo após milhares de anos.

No entanto, as múmias egípcias não são a única variedade existente, sendo que quando se trata da possibilidade de um corpo mumificado espalhar uma pandemia, as múmias congeladas são as que podem, em tese, representar uma ameaça ainda maior do que as enterradas sob as pirâmides. As “múmias de gelo” já foram encontradas em todo o mundo, da Groenlândia e da Cordilheira dos Andes ao permafrost da Sibéria e dos alpes italianos.

Infelizmente, mais múmias desse tipo serão formadas por conta dos acidentes envolvendo alpinistas nas montanhas do Himalaia a cada ano. No geral, as múmias de gelo e as recuperadas em regiões de permafrost tendem a ficar mais expostas ao ambiente e aos elementos circundantes, o que pode causar um certo temor de que essas múmias antigas possam liberar germes antigos.

A história humana e as epidemias

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Os seres humanos modernos existem há cerca de 200 mil anos, mas grande parte dessa história girou em torno de pequenos grupos, famílias e tribos. De fato, os primeiros humanos eram essencialmente caçadores, raramente permanecendo em um local por longos períodos e nunca se estabelecendo por tempo suficiente para construir casas, aldeias e alguma infraestrutura. Foi só a partir de 10 mil anos atrás, quando a agricultura começou a surgir em diferentes partes do globo, que as pessoas passaram a permanecer em um determinado lugar.

O surgimento da agricultura abriu as portas para o progresso da sociedade, dando origem a vilas e cidades ao longo do tempo. Antes disso, embora certamente houvesse germes e doenças que afetavam essas pessoas, a densidade populacional era extremamente baixa e os primeiros seres humanos tinham pouco contato com outros grupos.

As doenças capazes de resultar em uma epidemia, como a varíola ou o ebola, exigem uma infinidade de hospedeiros humanos para se espalhar e sobreviver, principalmente quando a doença pode causar rapidamente a morte do hospedeiro inicial. Só que, antes que os humanos começassem a se reunir em grandes cidades, havia poucas chances de uma doença dizimar uma grande população.

Com isso em mente, quaisquer restos humanos que foram mumificados antes de 10.000 aC provavelmente não representam ameaça alguma, pois doenças mortais capazes de causar uma epidemia não conseguiriam se desenvolver nas populações humanas até aquele momento. Ou seja, foi o aumento da densidade populacional que acabou levando à expansão de algumas doenças realmente assustadoras.

Tá, mas as múmias podem carregar doenças ou não?

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Quando se trata de vírus ou bactérias, até seria possível que esses organismos vivessem em estado inativo por centenas ou milhares de anos, mas isso é algo extremamente improvável. As condições para a sobrevivência teriam que ser perfeitas, como sendo preservados dentro de uma crosta (no caso de varíola) ou em algum outro tipo de tecido que não fosse exposto a qualquer influência decadente.

De fato, amostras de DNA já foram retiradas de muitos esqueletos antigos para ser analisadas na tentativa de revelar doenças que poderiam ter infectado e matado o indivíduo em questão. Eventualmente, restos de corpos de algumas centenas de anos atrás levaram ao descobrimento de casos de peste bubônica e cólera, mas os agentes causadores dessas doenças já estavam significativamente degradados e não poderiam sequer ser cultivados a partir das amostras colhidas.

Além disso, as múmias egípcias também têm menos probabilidade de carregar patógenos do que as congeladas no gelo, pois as chances de uma doença antiga sobreviver sob uma tumba de areia são extremamente pequenas. Para se ter uma ideia, vírus como os do sarampo, febre amarela e ebola não sobreviveriam em uma múmia por milhares de anos.

Uma palavra final

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Ainda há muito a ser estudado sobre esse assunto, até porque ainda existe um certo medo em torno do que o derretimento contínuo das geleiras pode revelar no futuro. No entanto, não há evidências firmes que sustentem a tese de que um agente infeccioso possa ser “revivido” depois de milênios e eventualmente prosperar em um ambiente moderno com os micróbios dos tempos atuais.

A ideia de um “vírus zumbi” proveniente das múmias é muito fácil de capturar a imaginação das pessoas, mas quando você olha para a ciência nua e crua, é possível ver que a probabilidade de uma pandemia decorrer das antigas múmias é consideravelmente pequena. Desde que sejam tomados cuidados específicos ao manusear e trabalhar com restos mumificados de animais ou seres humanos, a contaminação ou infecção é quase impossível.

Dito isto, o derretimento do permafrost e das geleiras acaba não sendo um sinal concreto de uma possível epidemia, mas serve como um forte indicativo de um perigo muito mais realista. A atual crise climática na Terra provavelmente será a maior ameaça à nossa sobrevivência como espécie, assim como a Gripe Espanhola e a Peste Negra ameaçaram a sobrevivência humana no passado.

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