Poucos aspectos da humanidade conseguem ser mais horríveis que a guerra. De fato, a nossa história está repleta de campos de batalha e destruição encharcados de sangue, lições que muitas vezes são ignoradas ou esquecidas. No entanto, uma das verdades mais terríveis da guerra é que nossos métodos de matar aumentam constantemente sua eficiência e letalidade desde que o primeiro homem das cavernas pré-histórico golpeou outro na cabeça com uma pedra.

Seja através de paus, espadas, arcos, armas de fogo ou bombas, nossa espécie está em uma trajetória singular em direção ao domínio do assassinato há milênios. No entanto, algumas das armas mais sombrias e incontroláveis que a humanidade criou são de natureza química, e talvez o exemplo mais famoso disso seja o gás mostarda.

Seu uso em tempos de guerra é proibido pelo Protocolo de Genebra e ele não é amplamente utilizado desde a Primeira Guerra Mundial, mas até hoje o termo “gás mostarda” causa um calafrio capaz de percorrer as espinhas de qualquer ser humano. Mas, afinal de contas, o que é o gás mostarda e por que ele ele é tão perigoso?

A ascensão das armas químicas

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As armas químicas podem parecer uma invenção moderna, mas a verdade é que elas já existem há milhares de anos, desde que as cidades-estado da Grécia antiga passaram a envenenar o suprimento de água umas das outras. Com o passar do tempo, os antigos gregos resolveram revestir suas balas de veneno para enfrentar inimigos, assim como direcionar gases tóxicos na direção dos adversários com a ajuda do vento. No entanto, a guerra química só foi ser aperfeiçoada nos primeiros anos do século XX.

Uma maior compreensão das ciências químicas permitiram o desenvolvimento dessas armas. Basicamente, uma vez que passou a ser possível isolar elementos diferentes, passou a ser natural armar as substâncias químicas de uma maneira mais eficaz do que envenenar um aqueduto com extratos de plantas venenosas. Vários países e químicos desenvolveram o gás mostarda no século 19, mas esse gás só recebeu a sua primeira aplicação na guerra em meados de julho de 1917.

Dois anos antes, os alemães haviam usado um gás de cloro altamente mortal contra seus inimigos entrincheirados. O gás de cloro tinha cheiro de alvejante e irritava os olhos, nariz, boca e garganta e poderia asfixiar as vítimas se elas estivessem cercadas por concentrações suficientemente altas.

No entanto, o gás de cloro produzia um cheiro forte e uma nuvem esverdeada, fazendo com que fosse fácil detectá-lo, sem falar que a sua inalação podia ser evitada simplesmente cobrindo o nariz e a boca com um pano úmido, dada a natureza solúvel em água da toxina. Por conta disso, os gases tóxicos passaram a ser aprimorados e se tornaram mais eficazes e mortais, culminando na forma definitiva do gás mostarda.

O uso do gás mostarda na Primeira Guerra Mundial

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O gás mostarda acabou sendo a escolha preferida entre os comandantes dos campos de batalha na Primeira Guerra Mundial, embora o número exato de sua letalidade durante os combates seja desconhecido. No total, houve cerca de 1,3 milhão de mortes causadas por ataques de gás, mas é impossível saber quantos deles podem ser ligados aos efeitos do gás mostarda.

O gás mostarda é uma substância vesicante, capaz de formar bolhas grandes na pele e no interior dos pulmões. Quando usado em guerra, o gás apresentava uma cor marrom-amarelada e tinha um leve odor de mostarda. Ele era dispersado como uma fina névoa de gotículas que acabava se estabelecendo no chão como um líquido oleoso, mas também formava nuvens densas que desciam pelas trincheiras e afetavam brutalmente aqueles que permaneciam no local ou experimentavam algum tipo de exposição prolongada.

Expor os olhos, nariz, boca, pele, garganta ou pulmões ao gás mostarda resultava em irritação extrema, incluindo náusea e vômito, cegueira temporária, falta de ar, tosse e dores nasais. Segundo relatos da época, era como se sua garganta estivesse se fechando, impossibilitando a respiração por semanas seguidas, enquanto os sintomas graves se manifestavam. Em alguns casos, poderia levar semanas para as vítimas morrerem. Se elas sobrevivessem, elas ainda sofreriam danos permanentes como resultado de sua exposição.

Como o gás mostarda também é uma substância mutagênica, o que significa que pode atacar o DNA da vítima, o seu ataque promovia um risco muito maior de câncer mais tarde na vida, caso a pessoa afetada sobrevivesse aos horrores da guerra.

O gás mostarda depois da guerra

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Em 1925, sete anos após o fim da guerra, o Protocolo de Genebra foi assinado e ratificado pela maior parte do mundo dentro de um espaço de cinco anos. Um dos principais pontos foi a proibição do uso de armas químicas, como o gás mostarda, pois os países signatários declararam que o uso de armas asfixiantes na guerra foi “condenado pela opinião geral do mundo civilizado”.

Por esse motivo, houve um número surpreendentemente pequeno de ataques de gás perpetrados na Segunda Guerra Mundial, apesar dos números totais de mortes serem cerca de quatro vezes maiores que a Primeira Guerra Mundial (17 milhões vs 60 milhões).

Ainda assim, o gás mostarda foi usado mais de uma vez em conflitos menores desde a Primeira Guerra Mundial, principalmente na Guerra do Iraque-Irã no final da década de 1980, uma vez que permaneceu altamente eficaz contra um exército que era incapaz de se defender de tal ataque. Hoje, o uso de armas químicas é considerado um crime de guerra e é rapidamente repreendido pela maioria dos países que se deparam com as raras ocorrências modernas, como no ataque com gás sarin em Ghouta durante a Guerra Civil Síria em 2013.

Toda a história do desenvolvimento e a distribuição de gás mostarda continuam sendo exemplos horríveis de crueldade em tempos de guerra e a falta de humanidade que pode ser usada para conter os combatentes inimigos. Felizmente, os efeitos violentos, insidiosos e duradouros dessa arma foram reconhecidos e banidos, mas como vimos várias vezes ao longo da nossa história, é realmente impossível colocar um ponto final em questões que envolvem disputas entre grandes potências geopolíticas.

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