Sempre gostei de automobilismo. Acompanho religiosamente várias categorias atualmente e por esses dias, acabei me lembrando do que ficou conhecido como o “GP vergonhoso”, ou “a corrida de seis carros” da Fórmula 1. Essa corrida teve um acontecimento tão bizarro que durante muito tempo virou motivo de chacota pelos amantes dos esportes a motor.

O Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2005, realizado no circuito misto de Indianapolis (as 500 milhas da Fórmula Indy ocorre no traçado oval), é talvez o maior fiasco da Fórmula 1 moderna. O grid de largada possuía os tradicionais 20 carros, mas antes deles chegarem ao final de sua volta de apresentação e parar em suas posições de largada para o início da corrida, todos menos seis foram para os boxes. E por lá mesmo eles ficaram, enquanto meia dúzia de carros iniciavam sua “disputa” na pista. Mas afinal, o que aconteceu naquele fim de semana?

O problema começou nos treinos livres e classificatórios para o GP. Alguns carros que possuíam os pneus Michelin sofreram explosões perigosas de suas rodas em alta velocidade. Os 14 carros com pneus Michelin basicamente não suportavam a inclinação da curva mais acentuada do traçado. Além disso, naquele ano o asfalto havia sido recapeado e consequentemente virado mais abrasivo. Os outros 6 carros possuíam pneus Bridgestone, que não apresentava tanto desgaste quanto os Michelin.

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Ralf Schumacher após acidente causado pelo estouro do pneu.

Depois de analisar as causas, relacionadas à superfície daquela parte do circuito, além dos materiais usados na composição do pneu, a Michelin insistiu que fosse adicionada uma chicane (um tipo de desvio artificial) ao traçado do circuito para reduzir as velocidades. A FIA rejeitou a proposta, pois achou que seria injusto para as equipas que usavam os pneus Bridgestone, que não foram afetados pelas adversidades da pista.

Preocupadas com a responsabilidade criminal em caso de um acidente fatal, as equipes com pneus da Michelin (McLaren, Toyota, BAR, Renault, Sauber, Williams e Red Bull) decidiram se retirar da prova. Para evitar as penalidades da FIA, elas inicialmente alinharam no grid, mas entraram para os boxes logo após a volta de formação. Veja:

https://www.youtube.com/watch?v=4pNV8gPLcpA

Os outros seis carros com pneus Bridgestone iriam largar normalmente. Michael Schumacher e Rubens Barrichello na frente com suas Ferraris, Tiago Monteiro e Narain Karthikeyan mais atrás nos carros da Jordan, seguidos pelo par de Minardis de Christijan Albers e Patrick Friesacher.

E assim a corrida foi adiante, indignando os fãs que pagaram uma quantia considerável pelo ingresso da corrida que acabou virando uma procissão. O público que assistia pela TV também não ficou feliz, pois a diferença de rendimento entre as equipes era enorme. Monotonia total.

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O público mostrando sua satisfação com a corrida.

Mais tarde, 73 voltas sem sentido depois, Schumacher e Barrichello cruzaram a linha em primeiro e segundo respectivamente. Provavelmente, o homem mais feliz daquele dia deve ter sido Tiago Monteiro, que conseguia o seu primeiro e único pódio na F1. Ele também havia se tornado o único piloto português a ter terminado entre os três primeiros em um GP.

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Tiago Monteiro feliz da vida com seu terceiro lugar.

Após o fiásco, a Michelin não renovaria seu vínculo com a categoria depois do término do acordo em 2006. Desde então, a Fórmula 1 possui apenas uma fornecedora de pneus durante toda sua temporada.

Corrida bem peculiar, não? Deixe o seu comentário!