As lulas e os polvos são animais dos quais nunca costumamos nos atentar muito aos seus detalhes. Por causa de todo esse desconhecimento, essas misteriosas criaturas das profundezas marinhas são geralmente retratadas como caçadores sinistros através de filmes, séries e da literatura em geral. De certo modo, até as suas estruturas motoras e os seus comportamentos bizarros facilitam a existência de um certo “receio” em torno deles. De fato, seus seus tentáculos e ventosas, assim como seus bicos afiados, fascinam muitos biólogos marinhos há séculos. No entanto, uma das coisas mais estranhas que consegue atrair a atenção de qualquer ser humanos é a cor do sangue desses animais, que é azul por natureza. Mas afinal, por que essas criaturas marinhas apresentam essa característica tão bizarra?

Entendendo a diferença entre os tipos de sangue

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Embora você possa estar esperando uma explicação um pouco mais excitante ou absurdamente enigmática, primeiramente devo lhe informar que a verdadeira razão por trás do sangue azul de lulas e polvos tem a ver com uma simples questão de evolução. Pois bem, os seres humanos têm sangue vermelho, mas raramente nos perguntamos por que isso acontece. Na verdade, o sangue humano é vermelho porque um dos seus principais componentes é o ferro, que por sua vez pode ser encontrado na hemoglobina, que é uma proteína transportada pelo sangue que permite o transporte de oxigênio para os nossos órgãos e tecidos. Por sua vez, o ferro se liga ao oxigênio, o que faz com que a coloração do sangue fique vermelha, de forma semelhante ao que acontece quando o ferro é “oxidado” na natureza, dando origem à popular “ferrugem”. A abundância de hemoglobina no corpo se dá porque ela se trata de um método altamente eficiente de transporte de oxigênio, em comparação com outros métodos observados na natureza.

No entanto, há 600 milhões de anos, isso não era algo tão “comum” no reino animal. Espécies mais primitivas (como o polvo, a lula e vários outros invertebrados) sempre usaram uma proteína bem diferente, chamada “hemocianina”, que por sua vez se baseia no cobre, e não no ferro, como o mineral ligante de sua estrutura sanguínea. Quando o cobre se liga ao oxigênio, a descoloração que ocorre apresenta padrões diferentes, resultando em um sangue de cor azul. Agora, a parte interessante de tudo isso é que a hemocianina desempenha um papel fundamental nas adaptações de lulas e polvos ao seu ambiente. Grandes quantidades de lulas e polvos vivem perto do fundo do mar, muitas vezes em temperaturas extremas ou árticas, podendo chegar a -30 graus Celsius em alguns casos. Em temperaturas como essa, o oxigênio se liga mais fortemente às proteínas, de modo que se esse oxigênio não puder ser separado e entregue aos sistemas de tecidos e órgãos, o organismo poderá literalmente morrer sufocado. Felizmente, essas criaturas do fundo do mar podem alterar a concentração de hemocianina no sangue para compensar e garantir a sobrevivência em águas polares.

Uma questão de evolução

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Embora uma simples análise do sangue dessas criaturas possa explicar essa tonalidade de cor tão incomum, uma pergunta ainda carece de reposta: afinal, por que os polvos simplesmente não evoluíram para viver em águas mais quentes? Certamente isso teria sido mais fácil do que esperar centenas de gerações de polvos para desenvolver uma superprodução de hemocianina, não é mesmo? Bem, na verdade, os polvos sempre ficaram conhecidos no meio acadêmico pelo tempo de vida relativamente curto e pela falta de capacidade de migrar para grandes distâncias, o que pode explicar essa questão evolucionária. Essas características ocorrem, em grande parte, devido ao acasalamento, estilo de vida e mobilidade desses animais. Rastejar pelo fundo do oceano não é a maneira mais rápida de se mover, e com uma vida útil média de 5 a 15 anos, a migração para longas distâncias simplesmente não faz sentido.

Em outras palavras, eles tiveram que evoluir para lidar com o habitat escolhido. Viver perto de fontes superaquecidas e águas do Ártico ao mesmo tempo significa que os polvos precisam de flexibilidade na termorregulação e no transporte de oxigênio, tornando a hemocianina a opção mais flexível e naturalmente viável para a sua anatomia e suas necessidades específicas. Além disso, a concentração de cobre também aumenta em águas mais profundas, enquanto que a concentração de ferro eventualmente começa a diminuir. Portanto, a disponibilidade imediata de cobre pode ter provocado essa característica no progresso evolutivo de lulas e polvos, já que seu ambiente natural proporciona uma riqueza desse mineral tão essencial para a sobrevivência dessas espécies.

Eles não são os únicos a ter um sangue bizarro

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Por mais incrível que pareça, a natureza não pode ser divida apenas entre criaturas de sangue azul e criaturas de sangue vermelho, já que também existem certas espécies com cores sanguíneas bem mais incomuns. Por exemplo, existe uma espécie de lagarto de sangue verde nativo da Papua Nova Guiné, que conta com essa característica por conseguir dividir a hemoglobina usada em partes constituintes (bilirrubina e biliverdina). Na prática, esses subprodutos individuais interagem com o sangue para lhe dar uma coloração esverdeada, o que, convenhamos, é uma coisa muito estranha para os nossos padrões.

Por outro lado, também existem certas espécies de peixes que vivem em temperaturas extremas e possuem um tipo de sangue completamente limpo, sem qualquer transportador específico e colorido de proteínas do sangue para o oxigênio. Na verdade, isso acontece principalmente pelo fato de que existe uma maior disponibilidade de oxigênio no fundo do oceano do que “aqui em terra firme”, de modo que como os peixes absorvem diretamente o oxigênio do ambiente através das suas guelras ou de uma difusão direta, eles podem bombear oxigênio para as partes necessárias sem qualquer auxílio destes “portadores coloridos”.

Por isso, se alguma vez na sua vida você resolver mergulhar em algum lugar e acabar se deparando com um polvo, lembre-se que eles não são animais diferentes de nós apenas em termos estéticos. Eles têm alguns apêndices extras, uma história de aproximadamente 600 milhões de anos, uma grande ausência de ossos e uma curiosa proteína que lhe confere um sangue com uma tonalidade azul muito chamativa!

Animais com características muito interessantes, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!