Já é do conhecimento de todos que nós, seres humanos, contamos com um único coração responsável pelo bombeamento de sangue por todo o nosso corpo. A maioria dos outros animais mamíferos também tem um único coração que circula oxigênio e nutrientes por todos os outros órgãos. Obviamente, cada coração pode não funcionar da mesma forma a depender da espécie, mas o fato é que esse órgão geralmente realiza o trabalho de bombeamento sozinho.

No entanto, o que pouca gente sabe é que os cefalópodes que vivem no mar (lulas e polvos) apresentar uma característica muito diferente. Basicamente, eles não estavam muito contentes em viver com apenas um coração, então acabaram evoluindo para contar com três desses órgãos! Na prática, o trabalho em conjunto dos seus três corações serve para bombear sangue por todo o seu corpo flexível e desossado para fornecer oxigênio de maneira eficaz.

Mas, afinal de contas, por que exatamente eles precisam de três corações em vez de apenas um, como é o caso de tantas outras criaturas no reino animal? É essa a questão que vamos abordar ao longo desse post!

Compreendendo como os polvos circulam seu sangue

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Para entendermos melhor a necessidade de ter tantos corações, precisamos compreender primeiramente que os cefalópodes têm um sistema circulatório fechado. Basicamente, um sistema circulatório fechado significa que seu sangue flui dentro dos vasos, ao contrário de um sistema circulatório aberto, onde todo o sangue ou hemolinfa banha todos os tecidos, como os encontrados em insetos, camarões e outros moluscos.

Os três corações responsáveis pela circulação dos cefalópodes têm funções diferentes. Existe o coração principal (como o nosso coração humano), chamado coração sistêmico que bombeia o sangue por todo o corpo. Os outros dois corações são os corações branquiais, localizados perto de cada guelra. Todas essas estruturas estão no manto, uma estrutura muscular logo atrás da cabeça do cefalópode, sendo que o manto também abriga outros órgãos, como o sistema digestivo e as glândulas reprodutivas.

Com isso, o coração sistêmico direciona o sangue para os corações branquiais, que por sua vez enviam o sangue aos capilares nas brânquias para serem oxigenados. Esse sangue oxigenado é enviado de volta ao coração sistêmico, quando chega ao resto do corpo para reabastecer seus tecidos com oxigênio. E assim, o processo se repete.

Outros animais têm um sistema semelhante, mas em vez de passar por mais dois corações, o sangue é enviado diretamente para os pulmões ou brânquias para obter oxigênio. Já os seres humanos têm a artéria pulmonar que leva o sangue desoxigenado aos pulmões para ser oxigenado e posteriormente leva o sangue rico em oxigênio de volta ao coração. No entanto, a principal razão pela qual os cefalópodes seguem a rota dos três corações, em vez da rota direta, pode ter a ver com o seu sangue bastante incomum.

Animais de sangue azul

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Algumas pessoas costumam dizer que a realeza possui “sangue azul”, mas os verdadeiros seres de sangue azul no reino animal são os cefalópodes. Ao contrário do sangue humano, que é vermelho devido à hemoglobina transportadora de oxigênio que contém ferro, os cefalópodes usam uma proteína que contém cobre chamada hemocianina. A hemocianina, quando ligada ao oxigênio, confere ao sangue uma cor azul bastante curiosa.

A questão é que a hemocianina não é tão eficiente no transporte de oxigênio quanto a hemoglobina. Basicamente, o cobre da hemocianina se liga ao oxigênio de uma forma não muito cooperativa, enquanto o ferro da hemoglobina se liga ao oxigênio cooperativamente. Além disso, quando a hemoglobina é parcialmente oxigenada, devido a alterações de conformação na proteína, sua afinidade com o oxigênio aumenta ainda mais.

No entanto, a hemoglobina não é muito eficaz em baixas temperaturas, onde residem os cefalópodes. É por isso que, nesses ambientes de baixa temperatura e baixa pressão de oxigênio, a hemocianina sempre esteve em vantagem. A hemocianina, diferentemente da hemoglobina presente nos glóbulos vermelhos, é um complexo proteico flutuante no sangue dos cefalópodes, que torna o sangue mais viscoso. Para compensar a eficiência de transporte de oxigênio reduzida e a viscosidade aumentada, os cefalópodes precisaram encontrar alguma forma de circular seu sangue a pressões mais altas.

Por conta disso, a solução evolutiva foi desenvolver três corações. Dito isto, também é importante deixar claro que nem todas as criaturas que têm sangue azul precisam de três corações. O cefalópode nautilus, o animal marinho hipnotizante de concha em espiral, tem apenas um coração responsável pelo bombeamento de sangue pelo seu corpo, ao contrário de seus parentes de três corações. Acredita-se que ele não precisa dos dois corações extras por causa de seu tamanho relativamente menor e pelo estilo de vida bastante sedentário da criatura.

Artrópodes como o famoso caranguejo-ferradura e alguns escorpiões também têm sangue azul por conta da hemocianina, mas eles podem não ter desenvolvido três corações porque contam com um sistema circulatório aberto.

Uma palavra final

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Para finalizar, é importante deixar claro que mesmo com esses três corações, polvos e lulas não podem andar por aí totalmente despreocupados. Ainda assim, os polvos até preferem um estilo de vida mais descontraído, até porque seu coração sistêmico não pode fazer um esforço cardio muito intenso.

Por conta disso, quando um polvo precisa nadar rápido para capturar as suas presas, o seu coração sistêmico pode parar de funcionar a todo vapor depois de um tempo, forçando o polvo a parar um pouco para se recuperar. É por isso que você provavelmente não verá um polvo vivendo um estilo de vida frenético no oceano. De fato, para preservar energia e não cansar o coração, eles preferem correr e rastejar no fundo do oceano, sempre se movendo lentamente, mas em constante observação.

E você, já sabia que os polvos possuem três corações? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!