Poucas coisas conseguem causar tanto nojo e repugnância quanto certos seres de cor marrom escura e antenas longas que procuram comida em um bom esconderijo (geralmente na parte de trás de um armário ou em uma pilha de roupas). Há praticamente um consenso universal de que as baratas são nojentas, até porque elas representam tudo o que há de mais sujo no ambiente em que vivemos.
Como se as suas características físicas já não fossem bizarras o suficiente, as baratas costumam se arrastar para fora dos ralos e pias da cozinha, procurando comida por toda a parte e silenciosamente se escondendo ao notar o primeiro sinal de vida humana. Além disso, elas têm associações e afiliações com germes que causam aos seres humanos uma infinidade de aflições. É exatamente por conta desses fatores que, para os residentes urbanos, a barata costuma ser considerada o inimigo público nº 1.
Embora essa reputação seja merecida, o fato é que esses insetos asquerosos existem há centenas de milhões de anos, muito antes de seres humanos ou primatas caminharem na Terra, representando uma parte vital do nosso ecossistema ao formar 24% da biomassa dos artrópodes nos dosséis tropicais. Mas, a pergunta que fica é: qual a importância da existência dessas criaturas?
As diferenças entre as baratas urbanas e as selvagens
As baratas que chamamos de pragas e as que vivem em estado selvagem são criaturas bem diferentes. No geral, as baratas fazem parte da Ordem Blattodea (também compartilhada por cupins). As duas famílias que compõem a maior porção de baratas são a Blattidae e a Blaberidae. As baratas pestíferas pertencem à família Blattidae, no entanto, estas pragas nojentas representam apenas 70 espécies dentre as mais de 4000 espécies de baratas já catalogadas.
Por outro lado, as outras 3930 espécies de baratas formam um dos maiores grupos de artrópodes do planeta e desempenham um papel muito importante no mundo natural. De fato, estima-se que essas criaturas compreendem cerca de 24% dos artrópodes (o filo de animais de seis patas às quais as baratas pertencem), sendo que a maioria das baratas selvagens é essencial para a saúde dos ecossistemas em que habitam.
Infelizmente, sua reputação acabou sendo manchada indevidamente por causa das suas primas sacanas que adoram invadir nossas prateleiras de despensa e levar germes perigosos para todos os seres humanos.
Grandes coletoras de lixo
As baratas são seres onívoros, o que significa que elas não são comedoras exigentes. Mais formalmente, onívoros são aqueles animais que podem comer plantas e animais. Além disso, elas também são criaturas decompositoras que comem matéria morta e em decomposição. Na prática, isso as torna um dos maiores seres coletores de lixo da natureza.
Na natureza, não há funerais ou enterros, muito menos “respeito pelos mortos”, mas a matéria morta possui nutrientes dos quais outros animais podem comer e obter energia. Os decompositores maiores, como os abutres, se alimentam da maior parte da carne de uma carcaça, enquanto os decompositores menores, como bactérias, nematoides (vermes muito pequenos) e fungos, dividem a matéria em nutrientes muito menores. Isso beneficia o solo da área, dando à flora um solo rico para crescer. Isso é chamado de “ciclo de nutrientes”.
Embora as baratas selvagens sejam seres onívoros, seus maiores talentos de decomposição estão na quebra da celulose na madeira. A celulose é um carboidrato difícil de quebrar, pois não só é um polímero estável, mas também é bloqueada por uma proteína chamada lignina, que a torna muito dura e resistente. Muitos insetos e animais simplesmente não conseguem digerir celulose porque não possuem os microorganismos certos que podem metabolizar a casca, mas as baratas e seus parentes (os cupins) não têm esse problema.
Cultivando a terra
Por incrível que pareça, muitas baratas não têm asas, como por exemplo, as que vivem no chão na Austrália. Essas criaturas que habitam o solo costumam escavar fundo, sendo que algumas delas podem atingir até 6 metros de profundidade, formando um impressionante labirinto subterrâneo. Na prática, toda essa escavação pode ser boa para o solo, pois mistura nutrientes no solo, areja a região e altera sua textura e porosidade, mudando seu perfil químico e melhorando as capacidades de drenagem do solo.
De fato, essas rotas de escavação podem até servir como um benefício para as raízes das plantas, pois elas não apenas alteram as propriedades físicas do solo ao seu redor, mas suas atividades de decomposição e excreções que também podem beneficiar o perfil nutritivo e microbiano do solo. Isso é especialmente importante em regiões áridas, onde a decomposição pode fornecer hidratação importante ao solo circundante.
Em ambientes humanos, os agricultores fazem isso lavrando a terra para prepará-la antes de utilizar sementes. Na natureza, baratas e outros insetos trabalham como agricultores para manter o solo rico.
Uma palavra final
No fim das contas, a importância das baratas depende do seu tipo e do ambiente na qual elas estão inseridas. As baratas que vivem no meio urbano são consideradas pragas (até porque podem espalhar doenças), mas as baratas que vivem no ambiente selvagem são seres decompositores que podem quebrar a celulose na madeira, melhorar a qualidade do solo através da escavação e até servir como uma fonte de alimento para muitos animais.
No início deste ano, pesquisadores encontraram duas baratas de 99 milhões de anos congeladas em âmbar. Encontradas em Mianmar, essas baratas muito antigas estão fazendo com que os pesquisadores reescrevam os livros de história da natureza, pois acredita-se que esses seres rastejantes possam ser os primeiros organismos “troglomórficos”, ou seja, aqueles que vivem nos ambientes escuros das cavernas.
Para a maioria das pessoas, as baratas são apenas seres repugnantes que devem ser esmagados com o calcanhar do calçado ou pulverizados com um novo coquetel de pesticidas. No entanto, muitas baratas selvagens são fascinantes, vivendo vidas complexas e interessantes sobre as quais os humanos talvez nada saibam. De fato, podemos até dizer que as elas já estiveram em várias partes do mundo, visitando muitos lugares bonitos que os humanos ainda sequer descobriram.
Embora asquerosas, essas criaturas são seres muito interessantes, não é mesmo? Compartilhe o post e deixe o seu comentário!