A Grã-Bretanha está encolhendo. Todos os anos, vários metros quadrados de terra são arrastados pelas ondas do Oceano Atlântico. O mar está ganhando terreno a uma média de um metro e meio no extremo norte e a vinte centímetros no sul. Não parece muito, mas por incrível que pareça, de tempos em tempos, alguma vila acaba desaparecendo do mapa por causa desse fenômeno. Hoje, vamos falar da vila britânica mais famosa que foi arrastada pelo mar: Hallsands.

Embora a erosão costeira seja um processo natural inevitável, às vezes a atividade humana alimentada pela ganância pode agravar ainda mais a situação. Um famoso exemplo de erosão causada pelo homem é a, agora abandonada, vila costeira de Hallsands, no sul do condado de Devon. Na virada do século 20, Hallsands era o lar de uma pequena comunidade de pescadores com uma população de cerca de 160 pessoas. Um fato interessante é que a erosão de Hallsands não foi gradual, mas sim abrupta de tal maneira que a vila desapareceu durante uma única noite tempestuosa.

Hallsands antes de ser varrida para o mar

Hallsands antes de ser varrida para o mar.

Hallsands foi construída em uma borda rochosa sob um alto penhasco. Inicialmente era um local seguro. O mar não era muito agitado e havia uma larga praia de cascalho entre a vila e o mar, o que servia como um amortecedor para as fortes ondas que vinham do leste. Até mesmo a Grande Nevasca de 1891, que atingiu o sul da Inglaterra e afundou dezenas de navios no Canal da Mancha, não causou danos à pequena vila construída de forma precária. Mas isso mudaria três anos depois.

Em 1894, a Marinha Real propôs expandir o estaleiro naval de Keyham, um projeto que exigiria cerca de 400.000 metros cúbicos de cascalho. Foi decidido que o material seria extraído de Start Bay, ao norte de Hallsands. O trabalho começou em abril de 1897 e uma média de 1.600 toneladas de material eram extraídos por dia. O efeito da operação foi sentido na vila de Hallsands quase que imediatamente. A praia começou a perder sua forma e nível, o que deixou os habitantes em alerta.

Os moradores pediram ao governo local para intervir. Um inquérito até foi realizado, mas a empresa de engenharia para a qual o contrato foi concedido manteve a constatação anterior de que a praia seria naturalmente reabastecida com areia nova em questão de tempo. Então, a extração continuou.

moradores de Hallsands

Os antigos moradores da vila.

Em 26 de janeiro de 1917, uma violenta tempestade atingiu o local. O forte vento levou ondas enormes até a praia inexistente à essa altura devido às extrações do cascalho e colidiu com as casas na altura do telhado. As casas construídas no parapeito desabaram e as que estavam nas rochas foram atingidas pelo vento, ondas e pedras. Milagrosamente, todos os 79 habitantes da época sobreviveram e correram para se abrigar.

No dia seguinte, uma visão devastadora assombrava o lugar. Muitas casas desapareceram de vista. Por sorte, o quebra-mar havia impedido que muitas vidas fossem ceifadas. Dois dias depois, no dia 28 de janeiro, uma maré alta quebrou o paredão, já enfraquecido, e a vila inteira desmoronou no mar, exceto por uma única casa que era a mais alta da vila.

Naquela semana, o jornal regional Kingsbridge Gazette, estampava uma manchete pra lá de cômica, apesar de trágica: “A praia foi para Devonport e as casas foram para o mar”, referindo-se ao novo cais em Devonport que foi construído com o material proveniente da praia de Hallsands. Um inquérito foi realizado, mas os relatórios nunca se tornaram públicos. A junta comercial negou a responsabilidade, mas acabou concordando em pagar 6.000 libras aos moradores como compensação.

Hallsands ruinas

Ruínas de Hallsands.

Hoje, há um pequeno vilarejo construído acima da face do penhasco e com vista para a cena do desastre, como você pode ver na imagem do topo desse post. A partir de uma plataforma de observação no local, é possível ver algumas das ruínas da antiga vila que servem como um alerta para a loucura do homem em se intrometer nas forças da natureza.

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