O silêncio absoluto pode enlouquecer uma pessoa?

O cotidiano nas grandes cidades é repleto de sons e ruídos que, por terem virado rotina em nossas vidas, nem percebemos tudo o que acontece em volta: Motores de veículos, pessoas conversando, vendedores anunciando em caixas de som, acidentes, sirenes e por aí vai. Às vezes, o que mais queremos diante de toda essa correria é parar um pouco e deitar em um lugar bem calmo, sem a pressão que o mundo dos negócios coloca sobre nossas cabeças, um pouco de silêncio.

Mas o que será que aconteceria com uma pessoa se ela fosse sujeita a uma situação totalmente contrária, a um ambiente onde o som é praticamente nulo? Mal sabemos, mas mesmo o “silencio” como somos acostumados é composto de pequenos ruídos, mesmo que seja o próprio som do vento, ou pássaros cantando no bairro.

Um laboratório nos Estados Unidos desenvolveu uma sala que procura reproduzir esta experiência: se chama Câmara Anecoica. Esta câmara é como uma grande sala de estúdio, construída no Laboratório Orfield, que fica em Minneapolis, nos Estados Unidos. Eles realizam estudos sobre Acústica, que é o ramo da Física no qual se estudam o som. Confira só esta imagem de dentro da sala:

Mas o que acontece dentro desta câmara? As paredes possuem blocos em formato triangular, pois, segundo os estudos, fazem com que toda onda sonora que venha de encontro com estes blocos seja minimizada ao máximo. Isto acontece porque, ao contrário de paredes lisas nas quais o som se reflete, as estruturas triangulares fazem com que o som reflita entre elas mesmas, devolvendo o mínimo de ruído possível. Ou seja, o som “ricocheteia” entre as superfícies até que se torne cada vez mais baixo, se tornando praticamente nulo. confira o desenho abaixo.

Explicando a figura de forma básica, temos uma onda sonora representada por “I“, prestes a entrar em contato com a câmara anecóica, que tem suas paredes compostas por blocos em formato da letra “W“, com altura “H“. Após o impacto, a onda I se reflete em séries de ondas “R“que refletem “saltitando” na lacuna de ar representada por “A” (ligada por linhas pontilhadas) entre os blocos W. Este fenômeno produz um certo padrão na onda sonora, praticamente estável, na lacuna A. E, ao longo deste processo, as ondas R acabam se dissipando até a ponta “C“, que forma um “beco” para as ondas sonoras. Apesar da explicação usar símbolos bidimensionais, é uma representação válida e aplicável ao que presenciamos em câmaras anecoicas.

Quanto ao corpo humano, quais seriam os efeitos desta “anulação” de som?

Podemos não perceber, mas o corpo humano procura se adaptar às diversas situações às quais é sujeito e também apresenta tendências a se comportar seguindo padrões dessa adaptação. Uma vez que se muda o ambiente que uma pessoa está, seu corpo ainda poderá tentar reproduzir sensações às quais estava acostumado, mesmo em uma situação diferente. Em uma câmara anecoica não seria diferente. Lembra do que falei no começo da matéria, sobre o barulho e correria da cidade?

Então, o seu corpo estaria tão adaptado a conviver com o barulho, que ele tentaria reproduzir sons semelhantes, mesmo com a “quebra” de padrão que uma câmara anecoica causaria. Mas de onde seriam estes sons? Do seu próprio organismo: você sentirá o som de sua respiração mais alto, até seus batimentos cardíacos e outros órgãos internos ficariam mais perceptíveis. Na prática, seu ouvido ficaria mais sensível, por isto algumas pessoas dizem que “enlouqueceriam” em uma câmara dessas.

Câmaras anecoicas são muito usadas para experimentos nos quais estímulos sonoros externos não podem interferir no sistema estudado. Confira este vídeo do canal Veritasium, no qual eles descrevem um pouco suas sensações a respeito da câmara anecoica. O áudio é em inglês, mas o vídeo fala por si só:

E aí, curtiu? Compartilhe com seus amigos, quebre o silêncio! Hehe 🙂